Nozes, ovos moles e mel de urze vão transformar-se em carvalhos no Buçaco
Pastelaria aveirense promete dar uma valiosa ajuda na regeneração da Mata Nacional do Buçaco, doando entre 500 a 1000 novas árvores. O número exacto dependerá apenas dos clientes.
As entidades envolvidas nesta parceria esperam que, dentro de um ano, esta área florestal, extremamente rica em património natural e arquitectónico, possa ter umas largas centenas de novos sobreiros e carvalhos plantados. “Actualmente, vendemos 10 Morgados por semana. Ao fim de um ano, são 520 bolos vendidos, mas espero que, com esta campanha, as pessoas sejam solidárias com a mata e comprem ainda mais”, perspectiva Francisco Silva, proprietário da Latina. O empresário aveirense reconhece que este não é um doce tradicional acessível a todas as bolsas – custa 28 euros a unidade -, mas, ainda assim, assume o objectivo de chegar “aos mil Morgados vendidos num ano”.
O sucesso desta campanha está, assim, nas mãos dos clientes, na certeza de que aqueles que tiverem a oportunidade de adquirir uma destas iguarias ímpares não irão arrepender-se, de todo. Importa lembrar que este doce já foi premiado com o galardão de ouro no Concurso Nacional de Doçaria Tradicional Popular Portuguesa. “Este é um doce que não leva farinha. São as próprias nozes, que têm de ser nacionais e daqui da região, que são moídas e transformadas em farinha. E leva mel de urze, também produzido aqui na região, e ovos moles”, explica o empresário que, há cerca de 20 anos, decidiu lançar-se na produção de um doce tradicional da zona do Buçaco, que estava praticamente esquecido. “Era um doce usado no Palácio do Buçaco e estou convencido que terá sido a II Guerra Mundial e o período pós-guerra que levou a que deixasse de ser produzido com regularidade”, explica Francisco Silva.
Um apaixonado pela floresta
O proprietário da Latina garante que não irá aumentar o preço unitário do doce durante esta campanha. “O preço sem IVA é de 22 euros, ou seja, canalizaremos 10 por cento desse valor para a aquisição de novas árvores, que têm um preço unitário de 2,20 euros”, contabiliza Francisco Silva. Perante estes números há uma pergunta que se impõe: o que pode levar um empresário do sector da doçaria a abdicar da sua margem de lucro em prol de uma mata nacional? “A minha família está ligada, há várias gerações, à produção florestal. Eu sou uma dessas pessoas que, no Verão, vive preocupada com os incêndios”, relata este empresário que é também vice-presidente da Associação de Produtores Florestais do Baixo Vouga – a nível associativo, é também conhecido por assumir a presidência da APOMA (Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro).
Francisco Silva relata que ficou sensibilizado com a devastação que atingiu a Mata do Buçaco na intempérie de 2013 e decidiu dar uma ajudinha na recuperação. E a fundação que gere esta área protegida - que ocupa 105 hectares e conta com cerca de 250 espécies de árvores e arbustos – agradece. “Além das quedas de árvores que ocorreram, não só na intempérie de 2013 mas também em Fevereiro deste ano, é preciso não esquecermos que a mata precisa de um trabalho constante ao nível na manutenção e regeneração”, nota Fernando Correia, presidente da Fundação da Mata do Buçaco (FMB).
Fernando Correia não esconde que gostaria de ver este tipo de campanhas de apoio à mata replicadas. Especialmente numa altura em que escasseiam os dinheiros e apoios públicos. “Temos tido alguns apoios, não só em termos financeiros mas também a nível de voluntariado. Infelizmente, são ainda insuficientes para as nossas necessidades”, testemunha o presidente da FMB.