Igual à Irlanda, até no discurso

Discurso de Passos Coelho tem muitas semelhanças com o discurso do primeiro-ministro irlandês no adeus à troika.

A gratidão para com os cidadãos afectados pela austeridade, a aposta no emprego e a garantia de que no futuro os esforços são para continuar foram os pontos-chave dos dois chefes de Governo.

Tal como Passos fez neste domingo, também Enda Kenny agradeceu aos irlandeses por terem suportado um duro pacote de austeridade ao longo de três anos e deixou claro que o rumo é para manter. “Agradeço-vos o papel que tiveram até agora na recuperação da Irlanda ", disse a 15 de Dezembro.

Na versão portuguesa, Passos Coelho prestou uma “homenagem a todos os portugueses”: “O dia 17 de Maio será o vosso dia. Será o dia de homenagem a cada um de vós, o dia em que a nossa liberdade de decisão foi reconquistada por cada um de vós.”

O chefe do Governo irlandês destacou “as consequências devastadoras do desemprego e da emigração” que muitas famílias sentiram. Em Portugal, Passos Coelho destacou “os efeitos dolorosos” da crise e atribuiu-lhes rosto: os desempregados, que “enfrentaram a ausência de perspectivas de trabalho”; os pensionistas, “que viram as suas pensões cortadas”; os funcionários públicos, “que sentiram a redução dos salários e o congelamento das progressões”; os trabalhadores do privado, “que enfrentaram a instabilidade e a incerteza”, e os jovens, “que perderam a confiança no futuro”.

E ambos sublinharam os sinais da retoma, lamentando que eles não se traduzam ainda “em melhorias no dia-a-dia de muita gente”, nas palavras de Passos. Em Dezembro, Kenny disse o mesmo de outra forma: “Sei que muita gente tem de lutar para conseguir equilibrar o seu orçamento. E também sei que as melhoras recentes da situação económica ainda não se traduziram no dia-a-dia de muitos de vós.”

Quanto ao futuro, ambos entendem que o rumo é o correcto. O primeiro-ministro irlandês destacou que os sacrifícios fizeram a diferença e a Irlanda está a seguir “na direcção certa”. “A economia está a começar a recuperar”, destacou Kenny. Passos Coelho garantiu que estamos também no caminho certo “para poder agora começar a sarar as feridas que foram abertas nos momentos mais difíceis da emergência nacional”.

Ambos prometeram manter o “rigor orçamental”. “Esta não é a hora para voltar atrás. O que já conseguimos custou muito, e não seria aceitável deitar tudo a perder”, disse Passos Coelho. “Os progressos que conseguimos não podem ser postos em risco. Agora não é a hora de mudar nosso rumo”, na versão à irlandesa.

Ambos prometeram apostar no emprego. Mas uma diferença substancial separa os discursos. Passos Coelho não detalhou ainda o plano para o pós-troika, enquanto Enda Kenny resumiu o plano económico de médio prazo que preparou para o país.
 

   

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