Editorial: Um bloco central, uma maioria, um...

Durão Barroso reescreveu um clássico de Sá Carneiro

        É um clube no qual não se entra querendo; na verdade, a forma mais conhecida de pedir a senha de acesso é fingindo-se desinteressado. É-se presidenciável em função de um cálculo volátil de disponibilidade, passado político e oportunidade, entre outros factores. Sendo virtual, este clube é muito importante. Por força da natureza das coisas, o verdadeiro candidato passará sempre pelo clube dos presidenciáveis virtuais, onde é feito um primeiro tirocínio. Por isso, esta comunidade é também o clube dos presidenciáveis mortos. Um sítio perigoso.

Na extensa entrevista que deu ao Expresso e à SIC, Durão Barroso volta a dizer que não está interessado em Belém. Nada de extraordinário; a hora de avançar ainda não chegou e, por agora, é apenas tempo de deixar as portas entreabertas, não de as abrir ou fechar. Como o sabem os outros potenciais candidatos do centro-direita, Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes ou um mais improvável Rui Rio.

Mas Durão Barroso foi mais longe do que a dança do ora põe, ora tira o pezinho da porta da presidência. Lançou uma ideia nova: em 2016, o país devia eleger um presidente apoiado pelos três partidos do chamado “arco da governação”: PSD, PS e CDS. Adivinhando-se que nesta equação quem conta realmente são os dois maiores partidos do sistema. Na entrevista, Durão Barroso sustenta a sua tese trazendo para o primeiro plano uma evidência sobre a qual nem socialistas nem sociais-democratas gostam de que se fale: em 2015, ninguém vai ter maiorias absolutas. Socialistas ou sociais-democratas vão ter de governar em coligação. Muito provavelmente, juntos.

Durão Barroso decidiu não apenas acrescentar a sua nota à melodia do momento, o já tradicional mas sempre adiado “consenso”, como reescreveu um verdadeiro clássico, o de Sá Carneiro. O novo lema é: um bloco central, uma maioria, um presidente.

Mesmo sem maiorias absolutas no horizonte, é muito pouco provável que maioria e socialistas abdiquem de apresentar os seus candidatos a Belém. O que Durão Barroso fez foi introduzir uma nova linha de cálculo neste jogo virtual. Mesmo que não esteja a inventar o seu próximo emprego, o presidente da Comissão Europeia conseguiu uma coisa. Depois de Passos Coelho, na sua moção ao congresso, ter definido o caderno de encargos para o candidato presidencial que o PSD apoiará, Barroso (cujos apoiantes reforçaram posições nesse congresso) inventou um caderno de encargos presidencial para os partidos. Pelo menos, trouxe uma ideia para nos entreter. Não vá Marcelo Rebelo de Sousa ficar com o exclusivo do entertainment presidencial.     

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