O livro de reclamações dos estudantes do Superior já tem milhares de páginas
Das dificuldades em pagar as propinas à recusa de bolsas, passando pelas consequências dos cortes no orçamento das universidades: associações académicas assinalam, esta segunda-feira, Dia do Estudante divulgando críticas dos alunos. O objectivo é fazê-las chegar a Cavaco Silva e Passos Coelho
São milhares de páginas de protesto de estudantes do ensino superior nacional, recolhidas nos últimos dias pelas associações académicas juntos de colegas de todo o país e que hoje começam a ser tornadas públicas, assinalando o Dia Nacional do Estudante. Depois disso, as reclamações vão ser reunidas em livro e enviadas ao Presidente da República e ao Governo.
Nos últimos dias da semana passada, as associações académicas e de estudantes lançaram o desafio aos alunos do ensino superior para que se pronunciassem sobre o sector. Estiveram à procura de conhecer as preocupações que os colegas da sua universidade ou politécnico manifestavam, abordando-os nas cantinas ou noutros espaços públicos da faculdade. Em dois dias, a Associação Académica de Coimbra (AAC) juntou mais de mil protestos escritos à mão pelos estudantes da mais antiga universidade do país. Só no primeiro dia de iniciativa, a Federação Académica do Porto (FAP) reuniu mais de 400 testemunhos. E como o desafio se alargou a todas as instituições de ensino superior do país, há muitos milhares de páginas já reunidas nos últimos dias e que são um retrato da forma como os estudantes vêem o sector em 2014.
Algumas destas mensagens são esta segunda-feira afixadas nas entradas das faculdades e escolas das várias instituições, dando a conhecer as preocupações aos colegas. “Também vamos deixar espaços em branco, para que quem ainda não se pronunciou possa fazê-lo”, explica Ricardo Morgado, presidente da AAC. “O objectivo é continuar a juntar contributos para termos o maior número de mensagens possível”, acrescenta Rúben Alves, líder da FAP.
“Temos mensagens muito interessantes que são um reflexo da forma como as pessoas percepcionam a importância do ensino superior para o desenvolvimento do país”, conta Alves. Os principais contributos “centram-se sobretudo na exigência da educação e no ensino superior como prioridades”, confirma Ricardo Morgado. Mas há também relatos de situações pessoais. Muitos dos contributos servem de desabafo. “Os estudantes entendem bem as dificuldades que o ensino superior atravessa”, acredita o presidente da AAC. Para aquele dirigente, os últimos três anos “foram muito difíceis” para os alunos do superior: “As dificuldades das famílias aumentaram, as propinas aumentaram e a acção social não tem respondido às necessidades”.
Funeral e Facebook
Esta segunda-feira será o primeiro momento de divulgação dos contributos dos alunos do ensino superior, assinalando o Dia Nacional do Estudante, que cumpre a sua 52ª edição – a crise académica de 1962, marcada por detenções e cargas policiais, está na origem da efeméride. O protesto dos estudantes terá um segundo momento de divulgação, quando as mensagens forem reunidas num livro, que será enviado ao Presidente da República, Cavaco Silva, ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e a outros membros do Governo, bem como aos responsáveis pelas instituições de ensino superior públicas.
“Temos que dar visibilidade ao momento por que está a passar o ensino superior”, defende Rúben Alves. As associações académicas reconhecem que é necessário convocar mais estudantes para se envolverem no combate aos problemas do sector em Portugal. Esta segunda-feira é “uma boa altura, para que os estudantes percebam que este é o seu dia”, afirma o presidente da FAP.
O protesto vai passar pelas redes sociais, já que as mensagens dos alunos estão a ser transformadas em pequenas imagens que cada autor poderá partilhar na sua própria conta do Facebook ou do Twitter. Mas vai também sair à rua, com acções locais nas cidades que acolhem as instituições de ensino superior, onde os dirigentes estudantis vão conversar com a população, tentando sensibilizar as pessoas para as dificuldades por que passa o sector. No Porto, os alunos de Belas-Artes vão desenhar um modelo nú, em frente à sua faculdade, enquanto em Aveiro se simula o "funeral" do Ensino Superior. Já em Coimbra, os universitários vão concentrar-se no Largo de D. Dinis para erguer um "mural das Reivindicações".