Estudantes discutem necessidade de pagar propinas
Debate "Propinas: porquê e para quê?" pretende desmistificar ideias sobre pagamento do ensino superior.
“Queremos lançar o debate sobre a necessidade e pertinência das propinas, não queremos entregar respostas. Queremos desmistificar algumas ideias que existem sobre o ensino superior, nomeadamente sobre as propinas, que é onde há mais mitos. Nós nascemos numa era em que toda a gente acha que fazem sentido, porque sempre existiram”, contou à Lusa Afonso Moreira, um dos elementos do colectivo de estudantes do Artigo74.º, entidade responsável pela iniciativa que vai decorrer na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
"Propinas: porquê e para quê? - Visão dos anos 90 até à actualidade" é o tema do debate que conta com a participação de Luísa Cerdeira, pró-reitora da Universidade de Lisboa e autora do estudo O Financiamento do Ensino Superior em Portugal.
Em declarações à Lusa, a pró-reitora defendeu que “no contexto actual é sensato e prudente manter o nível de propinas e o mecanismo vigente”. Luísa Cerdeira considera que seria “irrealista, o ensino público abdicar desta parte das receitas”, uma vez que os cortes na Educação “não permitem que as instituições vivam sem o valor das propinas”.
No entanto, a especialista sublinha que tem de existir um sistema de acção social, com atribuição de bolsas de estudo e um real apoio aos estudantes mais carenciados, de forma a garantir que nenhum aluno é afastado por questões económicas: “Tem de haver um equilíbrio para que não haja uma elitização do ensino superior”, defendeu.
Filipe Rosas, que pertenceu ao movimento anti-propinas e foi dirigente associativo nos anos 1990, é outro dos oradores convidados para o debate que conta também com a participação de João Cruz, elemento do Artigo 74.º.
Afonso Moreira recordou que no início dos anos 1990, as propinas eram de 6,50 euros e que no próximo ano poderão chegar aos 1066 euros. “Portugal é o terceiro país da União Europeia com a propina mais alta”, lamentou o aluno do 4.º ano do curso de Medicina da Universidade de Lisboa.
Afonso Moreira lembra que todos os estudantes que agora frequentam o ensino superior “nasceram numa era em que sempre houve propinas” e que os debates do Artigo 74.º têm como objectivo “mobilizar as pessoas para alterar a realidade".
O colectivo de estudantes quer continuar a realizar debates noutras instituições do ensino superior, estando já agendada para o final do mês uma palestra sobre a crise no Instituto Superior Técnico, em Lisboa.