A colecção Miró é um tesouro?

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A colecção Miró esteve exposta em Londres a antecipar o leilão que acabou por não levar as 85 obras à praça Suzanne Plunkett/Reuters

Quando os 85 Mirós voltarem a Portugal, qualquer que seja o destino posterior a dar-lhes, o que o Estado e as sociedades suas proprietárias podem fazer é uma exposição temporária com a agora famosa colecção.

Não será difícil contratar a empresa Everything is New, que já mostrou no passado interesse no assunto e em quem a Secretaria de Estado da Cultura confia agora para organizar as suas exposições mais importantes no Museu Nacional de Arte Antiga, como a do Prado, que está nas Janelas Verdes neste momento.

Será o momento ideal para todos (o país) avaliarmos a colecção Miró, o que aparentemente foi um processo que a Direcção-Geral do Património Cultural não conseguiu levar até ao fim. Aqui vale também a pena perguntar porque é que os Mirós saíram sem que se desse por isso (o tribunal não conseguiu apurar a data de saída), talvez porque consciente ou inconscientemente se previsse que o país pudesse descobrir os Mirós e ficasse deliciado a olhar para eles. É para estes casos que serve a Lei de Bases do Património Cultural, que com os atropelos do Crivelli e deste agora pode estar seriamente em causa. Começa também a perceber-se porque é que Isabel Cordeiro terá saído da Direcção-Geral do Património Cultural, alegando divergências profundas com a tutela. 

Por esta altura já não é preciso explicar que Joan Miró é um dos mais importantes pintores do século XX. O que talvez valha a pena também perguntar é: na história de arte portuguesa alguma vez houve uma oportunidade como esta, de ficar com uma colecção de 85 obras que provavelmente fazem um núcleo com imenso potencial museológico em qualquer parte do mundo? A resposta é não. Não temos sido especialmente expeditos a identificar tesouros ao longo da história. As nossas colecções de pintura não são particularmente ricas porque, ao contrário do que se tem escrito, sempre pensámos assim. Quanto aos directores dos museus quererem os Mirós nas suas colecções, é para isso que servem os museus, para guardar coisas valiosas e que custam muito dinheiro - o Hieronymus Bosch do Museu de Arte Antiga valerá centenas de milhões.

O que estamos a discutir é se daqui a 500 anos a colecção Miró não será tão património nacional como as Tentações de Santo Antão de Bosch ou o Mosteiro dos Jerónimos. A Direcção-Geral do Património Cultural tem agora de levar o processo até ao fim e determinar se a colecção deverá ou não ser classificada como património nacional. Só depois o primeiro-ministro e o secretário de Estado da Cultura poderão tomar a decisão política de vender a colecção.

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