Cavaquinho e retornados, Shakespeare e Almada no Teatro Viriato
Teatro de Viseu apresenta programação para o primeiro trimestre de 2014, em que assinala os 15 anos de actividade.
Apresentada esta segunda-feira de manhã em conferência de imprensa, a programação de Janeiro a Março do teatro viseense propõe-se “evitar as concessões à simples política de animação”, apostando antes na continuidade de “uma política cultural de serviço público”, disse ao PÚBLICO, por telefone, Paulo Ribeiro, director artístico do teatro - função que começou a desempenhar em Janeiro de 1999, depois de a sua companhia se ter tornado residente neste espaço.
“Fazer coisas que estruturem a cidade e a sociedade” de forma aberta à participação da população local também como parte integrante da programação é o objectivo da agenda do Viriato, que continua a integrar a rede 5 Sentidos, que em 2009 reuniu cinco estruturas culturais no país mas actualmente já agrupa o dobro, numa malha que vai de Guimarães a Torres Novas, de Estarreja a Ponta Delgada, passando também por Porto e Lisboa.
O programa do Viriato para 2014 vai começar com música, num duplo concerto no fim-de-semana de 17 e 18 de Janeiro. Na primeira noite, Júlio Pereira faz a estreia do seu novo disco, Cavaquinho.pt, que é também um livro, e ainda uma forma de dar visibilidade à recém-criada Associação Museu do Cavaquinho, e do seu projecto de ver este instrumento da música e da cultura popular reconhecido pela Unesco como Património Imaterial da Humanidade.
A 18, a cantora cabo-verdiana Carmen Souza apresenta um concerto recheado de sonoridades afro-cubanas e outras fusões rítmicas universais.
Ainda na música, o imaginário africano permanecerá presente no concerto de Kimi Djabaté (26 de Fevereiro), intérprete guineense de balafon descendente de músicos mandinga, e actualmente radicado em Lisboa.
O projecto Reportório Osório, que reúne a música de Luís Cardoso com a escrita de Luís Fernandes (12 de Fevereiro); o concerto A Fortaleza, com que Teresa Salgueiro actualiza as canções do seu primeiro disco depois dos Madredeus, O Mistério (22 de Março); e uma parceria com o Jazz ao Centro (Coimbra) através de um concerto e do lançamento do disco colectivo Pedra Contida (26 de Março) completam a agenda musical do Viriato para os três primeiros meses do ano.
No teatro, o destaque vai para a estreia nacional de Retornos, Exílios e Alguns que Ficaram (31 de Janeiro), uma coprodução com o Teatro do Vestido (Lisboa) e com texto original e dramaturgia de Joana Craveiro. Esta autora, que já no ano passado criou para o Viriato a peça Esta é a minha cidade e eu quero viver nela (estreada em Junho), está actualmente a trabalhar sobre as memórias dos retornados das ex-colónias portuguesas em África após a independência, e que foram realojados em Viseu, entre 1975-91. Retornos será, de resto, apresentado no Solar do Vinho do Dão, um dos lugares que na época serviram para realojar os retornados.
Ainda no teatro, os 450 anos do nascimento de Shakespeare serão evocados através de dois espectáculos em itinerância nacional: As You Like It (Como Queiram), produção do Arena Ensemble com encenação de Beatriz Batarda, que esta quinta-feira, dia 9, tem estreia nacional no Teatro São Luiz, em Lisboa (e chegará a Viseu a 7 de Fevereiro); e Coriolano, encenação de Nuno Cardoso, uma coprodução com o Teatro Nacional D. Maria II, que tem também estreia no mesmo dia na capital (no Viriato, a 28 de Fevereiro).
E Diogo Infante recitará o Sermão de Santo António aos Peixes (9 de Janeiro), na versão encenada por Cucha Carvalheiro.
Também para futura circulação pela rede 5 Sentidos, mas desta vez com estreia no Viriato, será a nova criação que João Sousa Cardoso fará sobre textos de Almada Negreiros, em parceria com a cantora Ana Deus e o actor Ricardo Bueno, mas também com a participação de desempregados residentes em Viseu, que estão a ser convidados a entrar no espectáculo. A peça chama-se MIMA-FATÁXA e tem estreia agendada para 14 de Fevereiro.
Fausta, a partir do romance O Banquete, de Patrícia Portela, uma produção do Centro de Artes e Espectáculos de Viseu (14 de Março), e A Caminhada dos Elefantes, criação de Inês Barahona e Miguel Fragata (para o Dia Mundial do Teatro, 27 de Março), são outras produções teatrais que subirão ao palco do Viriato.
Na dança, assinala-se a passagem por Viseu da criação de Tiago Guedes, A Dança (22 de Fevereiro), estreada na Culturgest, em Lisboa, em Dezembro passado; mas também a produção de Rui Horta para a Casa da Música, Danza Preparata (7 de Março), sobre a peça Sonatas e Interlúdios, de John Cage, e estreada no Porto em Abril de 2013.
Paulo Ribeiro anunciou ainda que André Mesquita continuará a ser, em 2014, Artista Residente no Teatro Viriato, dando sequência ao trabalho que o coreógrafo nascido em Setúbal (1979) aí iniciou no ano passado, e de que resultou já a criação Salto (estreada em Novembro).