Activistas querem panos negros contra Merkel
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho pediu aos portugueses que recebam bem a chanceler alemã Angela Merkel, mas alguns portugueses – que segundo Vítor Gaspar são o “melhor povo do mundo” –, não lhe vão fazer a vontade. Um pouco por todo o país, as pessoas vão sair à rua para mostrar que estão contra a austeridade.
Lisboa será o centro dos protestos. O secretismo sobre o itinerário da visita levantou uma onda de manifestações dispersas por vários locais da capital, desde a Assembleia da República até ao Centro Cultural de Belém (CCB).
É para esse local, onde Merkel fará o encerramento de um fórum económico, que está marcada a primeira manifestação do dia, às 10 horas. Sem ligações a sindicatos nem a movimentos de cidadãos, o protesto convocado no Facebook tem confirmado mais de duas mil pessoas. No mesmo local, o grupo Geração em luta apela a uma concentração no Palácio Nacional de Belém, às 10h30, que seguirá para o CCB três horas depois.
Por volta dessa hora, o movimento Que se lixe a troika reúne-se na Praça do Calvário com o mote “A Merkel não manda aqui!”. E porque a chanceler alemã não percebe a língua portuguesa, o grupo seguirá para Belém a gritar palavras-de-ordem em alemão. João Camargo, um dos membros do Que se lixe a troika, sublinhou ao PÚBLICO que o intuito é “mostrar que o repúdio dos portugueses não é só ao governo nacional, mas também aos actores internacionais que contribuem decisivamente para o estado do país”.
O Movimento 12 de Março (M12M) também vai juntar-se aos manifestantes em Belém e São Bento. A principal preocupação, segundo João Labrincha, é “centrar a contestação na imagem da Merkel e não no povo alemão”, de modo a “evitar a xenofobia que se propaga nestas alturas”.
Mais perto do centro da cidade, no Largo de Camões, a CGTP organiza uma concentração intitulada “Nem Merkel nem troikas” a partir das 15h. Armando Farias, membro da comissão executiva da central sindical, disse que o protesto foi convocado “em defesa da soberania e da independência nacional”.
O protesto da CGTP prolonga-se num desfile até São Bento, ao qual se vai juntar a Associação Projecto Ruído, que enviou, a 30 de Outubro, uma carta a Merkel. Hoje, o mote será: “Vamos todos mandar a Merkel para a troika que a pariu!”
Também o Movimento Sem Emprego (MSE) vai integrar o protesto da CGTP. Têm uma mensagem genérica – “Com estas políticas de austeridade os portugueses não podem comprar os produtos que a Alemanha produz e quer exportar” – e alguns cartazes. Ana Rajado, a porta-voz, antecipa alguns: “Quem deve aqui dinheiro é o banqueiro”, “FMI fora daqui” e “Esta dívida não é nossa”.
Todos querem mostrar o descontentamento com a situação actual do país, mas, apesar de estarem em sítios diferentes, os manifestantes terão uma característica comum: o luto contra a austeridade. Nas redes sociais circulam apelos, promovidos por movimentos ou cidadãos, para que hoje os portugueses se vistam de negro e cubram monumentos, lojas, janelas, carros e autocarros com panos e plásticos pretos. O objectivo é transformar a data da visita de Angela Merkel a Portugal no “dia em que a dignidade se cobre de negro”. A chanceler alemã estará apenas em Lisboa, mas a CGTP convocou manifestações para Braga, Porto e Faro.
Segurança reforçada
Apesar de não considerar a visita de alto risco, a PSP está a prepará-la com cuidado desde o primeiro ao último minuto. Fonte desta polícia adiantou ao PÚBLICO que o espaço aéreo vai ser encerrado no momento da chegada e da partida da chanceler alemã – tal como aconteceu quando Barack Obama se deslocou a Lisboa para participar na Cimeira da NATO, em Novembro de 2010.
A Polícia Marítima também vai estar envolvida na operação de segurança, de olhos postos na frente ribeirinha. Durante as cerca de cinco horas que Angela Merkel vai passar na capital, estará presente no Palácio de Belém, no Centro Cultural de Belém e no Forte de São Julião da Barra, em Oeiras, junto ao rio Tejo.
O número de agentes policiais envolvidos nesta operação está no segredo dos deuses, mas fonte da PSP garantiu que as Forças Armadas e as tropas de reserva da GNR não fazem parte do contingente. O grau de ameaça atribuído à visita de Merkel é de três numa escala que vai até cinco, o mesmo que é habitualmente considerado em visitas oficiais de chefes de Estado.
Notícia actualizada às 22h53: acrescenta informação sobre a operação de segurança