Alterações climáticas poderão levar à substituição da batata pelas bananas e da soja pelo feijão-frade
Num relatório do Grupo Consultivo Internacional sobre Investigação Agrícola (CGIAR), esta parceria de organizações envolvidas na investigação na agricultura para o desenvolvimento sustentável defende que o aumento da temperatura poderá reduzir a produção de batatas, um alimento que actualmente constitui a quarta maior colheita do mundo. Mais de metade das plantações de batatas situam-se nos países em vias de desenvolvimento. Deste modo, seriam as populações que já têm poucos recursos alimentares a sofrer mais com esta consequência.
Por sua vez, no estudo refere-se que o clima mais quente poderá aumentar a produção de bananas, porque essas condições reduzem o tempo entre a plantação e a colheita. As bananas poderão até crescer em locais onde há várias gerações têm sido cultivadas batatas, lê-se no relatório. O crescimento do fruto em altitudes mais elevadas é também uma previsão.
Realizado a pedido do Comité de Segurança Alimentar Mundial da Organização das Nações Unidas, este relatório foi elaborado por grupo de especialistas que olhou para os efeitos projectados sobre as alterações climáticas em 22 das mais importantes colheitas agrícolas no mundo.
Mas a mudança na dieta alimentar não fica por aqui. O arroz, o milho e o trigo, as três maiores colheitas do mundo em termos obtenção de calorias, também podem diminuir em muitos países em vias de desenvolvimento. O relatório aponta o trigo como a mais importante fonte de proteínas de origem vegetal e de calorias do mundo. Mas, de acordo com esta investigação, a alimentação enfrentará grandes dificuldades nos países em desenvolvimento. Os preços altos para o milho, algodão e soja empurram o trigo para terras marginais, tornando-o mais vulnerável às pressões resultantes das alterações climáticas. Um substituto poderá ser a mandioca, especialmente no Sul da Ásia, pois é tolerante às pressões introduzidas pelo clima.
Além da mandioca, o feijão-frade também poderá vir a ter uma importância alimentar acrescida, à medida que aumentarem as temperaturas. Conhecido na África subsariana como “a carne dos pobres”, o feijão-frade é tolerante à seca, preferindo até um clima mais quente. Deste modo, pode ser uma alternativa razoável para a soja, que é uma das fontes mais comuns de proteína na nossa dieta, mas é muito sensível às mudanças de temperatura.
Uma coisa é certa, à medida que os efeitos das alterações climáticas se agudizarem, as populações terão de se adaptar a alimentos que antes nem consumiam e refazer a sua dieta.