Pedro Sánchez diz “não” e Mariano Rajoy ameaça com novas eleições
O cenário da abstenção socialista na investidura de um novo Governo presidido pelo PP parece cada vez mais longínquo
O líder socialista Pedro Sánchez recusou na terça-feira uma proposta de “grande coligação” apresentada por Mariano Rajoy, presidente do Governo em funções e líder do Partido Popular (PP). Após uma reunião de 55 minutos no Congresso, reafirmou que “não é não” e votará contra a investidura de um Governo do PP. Rajoy respondeu com a ameaça de eleições. “Se Sánchez mantém o não, teremos de repetir as eleições. Seria um disparate, uma loucura.” A possibilidade de haver governo parece mais longínqua. Amanhã, quarta-feira, o líder do PP encontra-se com Albert Rivera, do Cidadãos.
Rajoy propôs a Sánchez a criação de quatro grupos de trabalho para negociarem as reformas institucionais, a política económica, um pacto educativo e uma agenda social. Sánchez respondeu que “a esquerda não vai apoiar a direita” e aconselhou o interlocutor a encontrar aliados na sua área. O que lhe interessa saber é se, e quando, Rajoy se apresenta à investidura no Congresso. O líder popular recusou-se a responder à pergunta.
Aumentam as dúvidas sobre datas — do voto de investidura (falava-se em fins de Agosto), de dissolução e de eventuais eleições. Perante a necessidade de preparar o Orçamento e responder a Bruxelas, evitando a prorrogação automática do anterior a 30 de Setembro, Rajoy não terá mais de 20 dias para se decidir.
O resultado das eleições de 26 de Junho não permite nenhuma maioria de centro-direita ou centro-esquerda. Seria necessária a participação dos independentistas catalães o que, dada a situação política em Barcelona, está fora de causa. Por isso há fundadas dúvidas sobre a possibilidade de Sánchez se declarar apto à investidura com uma “maioria de esquerda” — é uma questão “de números”. E não pode, para isso, contar com o Cidadãos.
Rivera reafirmou estar disposto a votar favoravelmente um executivo do PP, até a participar nesse Governo, mas na condição de não ser presidido por Rajoy.
Vários analistas mostram-se perplexos com a inflexibilidade de Sánchez. O politólogo Victor Lapuente Giné, escreve no El País que o PSOE está a desperdiçar uma oportunidade soberana. “Um Governo presidido por Rajoy, longe de ser uma armadilha, é uma oportunidade de ouro para o PSOE, o Cidadãos ou o PNV ou qualquer partido interessado em fazer avançar a sua agenda política no parlamento.” Com outro líder do PP, menos desgastado pelos escândalos de corrupção, terão menos margem de manobra para “obter vantagens políticas consideráveis”. Alguns analistas atribuem a intransigência de Sánchez à luta interna no PSOE e à sua vontade de atrasar o congresso do partido e conservar a liderança. Tal como acontece com Rajoy.
País Basco e Galiza
Perante a indefinição política e o risco de “terceiras legislativas” em Dezembro, os presidentes basco e catalão, respectivamente Iñigo Urkullu (PNV) e Alberto Feijóo (PP), decidiram antecipar as suas eleições autonómicas para 25 de Setembro. Não querem que as campanhas eleitorais sejam “contaminadas”.
A antecipação terá efeitos. Perante duas pesadas eleições autonómicas, o PSOE vai ser levado a cerrar fileiras e a baixar o debate interno, afastando mais o cenário da abstenção face a Rajoy. Por outro, Setembro será um mês explosivo, resume o La Vanguardia. Para lá de um clima de crispação a nível nacional, há as eleições bascas, as galegas e o voto do confiança no governo catalão, que pode levar à sua queda e a novas eleições autonómicas.