Itália “não vai fingir que está tudo bem” quando nada melhora na UE

Renzi “destroçou a ilusão de unidade” na cimeira de Bratislava. Depois de recusar falar à imprensa ao lado de Merkel e de Hollande, italiano reitera críticas sobre refugiados e austeridade.

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"Não podemos deixar que um problema como a imigração expluda por incapacidade da Europa”, disse Renzi Radovan Stoklasa/REUTERS

Que da cimeira de Bratislava saiu pouco mais do que um “roteiro” de estratégias para reconquistar a confiança dos europeus já se sabia. Aliás, antes dos líderes da União Europeia chegarem à capital eslovaca, já não eram esperadas “conclusões”. Mesmo assim, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, irritou-se por ali “ter sido dito mais ou menos o mesmo” de sempre, e recusou até estar numa conferência de imprensa com o Presidente francês, François Hollande, e com chanceler alemã, Angela Merkel, por “não partilhar as suas interpretações do comunicado final”.

“Não penso que seja justo a Itália fazer figura quando as coisas não melhoram”, afirmou no sábado, numa entrevista pública em Florença, horas depois de regressar do encontro a 27, o primeiro sem o Reino Unido. “Quando é que vamos compreender que se é justo salvar toda a gente do mar, não é possível acolher todos na Sicília e na Puglia [Sul da Europa]? Somos italianos, generosos, mas não podemos deixar que um problema como a imigração expluda por incapacidade da Europa.”

Renzi parece ter ficado especialmente descontente com a ausência de várias das suas propostas no comunicado. Por exemplo, a ideia de que só se combate o afluxo de refugiados e imigrantes se se investir “no desenvolvimento dos países africanos” e “sem perder tempo”. Com o acordo assinado entre Bruxelas e a Turquia para travar a vinda de sírios a caminho da Europa, o número dos que chega à Grécia diminuiu bastante em relação a 2015 – pelo contrário, aumentou o número dos que chegam a Itália partindo da Líbia (muitos chegaram ao país em guerra depois de fugir de outros países de África).

“Se a Europa não o fizer, vamos fazê-lo nós, mas a UE perdeu uma ocasião. Ontem trouxeram-nos para ler um documento em que nem sequer se falava de África”, acusou, em referência ao comunicado do encontro, citado pelas edições online dos jornais italianos

Questionado pela agência de notícias Ansa, um responsável do Governo alemão respondeu a apenas que “a agenda dos próximos meses foi aprovada por unanimidade” em Bratislava, com o acordo de todos os líderes presentes. “Este é o ‘roteiro’ assumido por todos os 27”, insistiu. Renzi “destroçou a ilusão de unidade” na cimeira de Bratislava, escreveu no Twitter a edição europeia do site Politico.

O “roteiro” propriamente dito não existe, o que saiu da cimeira foi o compromisso dos líderes em ter pronto, até Março de 2017, um conjunto de propostas para serem apresentadas em Roma, nas comemorações dos 60 anos do tratado fundador da EU.

“Temos de ter um plano de trabalho comum nesta situação crítica, depois do referendo britânico, e por outras dificuldades”, disse Merkel na conferência de imprensa em que Renzi recusou estar. A prioridade definida é uma e passa por retomar “o controlo” das fronteiras da União, num regresso ao funcionamento normal do espaço Shenchen, perturbado pela chegada de centenas de milhares de refugiados.

As críticas do líder italiano – que alguns na imprensa local interpretaram tendo em conta a agenda interna de Renzi, com o aproximar do referendo para alterar a Constituição que pode derrotar o seu Governo – não se ficaram pela questão dos refugiados. Como noutras ocasiões, Renzi repetiu que os europeus “devem reconhecer que a receita da austeridade falhou e que a do crescimento dos Estados Unidos de [Barack] Obama resultou; são os números que o dizem, é a realidade”.

Renzi não vai ao ponto de dizer que a cimeira não deveria sequer ter acontecido. O encontro “não foi uma perda de tempo, mas descrever este documento [o comunicado final] sobre imigrantes como um passo em frente requere uma imaginação digna de malabaristas”, descreve. “As coisas do costume foram simplesmente repetidas”.

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