PÚBLICO 28 Anos
Memórias do Porto, entre a renovação e a ruína
Houve um tempo em que quem chegava ao Porto por via aérea, mesmo conhecendo a cidade, não deixava de ser surpreendido, além do cenário do rio com as pontes, pela infinidade de quintais, jardins e mesmo bosquetes que preenchiam a geometria das ruas e praças da cidade. Hoje – e, como sabemos, há infinitamente muita mais gente a chegar ao Porto por via aérea – vêem-se menos zonas verdes. É claro que temos os parques da cidade, ocidental e oriental. Mas o verde foi substituído pelas clareiras brancas dos estaleiros de obra, e por uma infinidade de guindastes, que não têm já a patine histórica e estética dos titãs do porto de Leixões, mas pontuam ainda assim uma cidade em reconstrução. Quando, já no solo, percorremos as ruas do Porto, vemos a dupla face de uma cidade em acelerado processo de renovação: por um lado, quer manter a face bairrista de outros tempos; simultaneamente quer ser moderna, atractiva, e mostrar-se europeia, gourmet, pós-moderna… Os sinais são contraditórios: entre manter o património de fachada – como nalgumas dúbias intervenções na Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade – e renovar as montras das lojas de ferragens da Rua do Almada, venha o turista e… prometa voltar. Mas seria bom que a cidade quisesse, em primeiro lugar, continuar a ser para os seus habitantes, para os portuenses. E isso seria, sem dúvida, um bom convite para os visitantes.
Sérgio C. Andrade