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As obras de Paula Rego: viagem de vingança e auto-afirmação
Paula Rego fez a sua primeira grande exposição individual já tarde, em 1988.
Aquela que era uma das mais globalmente reconhecidas artistas portuguesas morreu esta manhã em Londres, aos 87 anos, na companhia dos seus três filhos, confirmou o PÚBLICO junto da família e de Catarina Alfaro, curadora-chefe da Casa das Histórias Paula Rego, o museu de Cascais dedicado a esta pintora que começou a trocar Portugal pelo Reino Unido quando em 1952 foi estudar para a prestigiada Slade School of Fine Art, em Londres.
Autora de uma obra que se espraia por diversas técnicas e suportes, fortemente influenciada pelo seu percurso pessoal, pela literatura e pelos contos populares portugueses e ingleses, Paula Rego está, a par de outra mulher, Maria Helena Vieira da Silva, entre os pintores portugueses do século XX de maior inscrição internacional.
Nascida em 1935, em Lisboa, filha única de um casal abastado, Paula Rego recebeu desde cedo uma educação anglo-saxónica a que não faltaram também, por influência do pai, os grandes escritores portugueses, a música erudita e o cinema. O pai é, aliás, uma das figuras que mais marcaram o seu percurso e a sua personalidade, um homem que, tal como ela, lutou contra a depressão e de quem a pintora dizia ter apenas “lembranças boas”.
Paula Rego fez a sua primeira grande exposição individual já tarde, em 1988, embora tenha começado a construir o seu universo singular, imediatamente identificável, ainda nos seus anos de formação na Slade, onde em 1954 recebeu o primeiro prémio da sua longa carreira. Um universo cheio de meninas perversas ou assustadas, de mulheres manipuladoras ou submissas, de homens frágeis ou dominadores, de seres fantásticos e inquietantes.
“As suas pinturas levam-nos numa viagem de vingança e auto-afirmação, à medida que as raparigas tomam o poder, caudas dos cães são cortadas, meninas pintam homens velhos, criadas pobres matam as suas patroas ricas e meninas vítimas de abuso são protegidas por um anjo, que por elas faz justiça”, escreve Elena Crippa, curadora das colecções de arte moderna e contemporânea britânica da Tate Britain, no texto que abre o catálogo de Paula Rego, a retrospectiva que se estreou em 2021 naquele museu londrino e que recentemente chegou a Málaga. “Não existe apenas dor ou raiva, mas também uma atitude maliciosa e subversiva que se delicia com o humor negro e as alusões atrevidas.”
Frequentemente exposta nas fundações Gulbenkian e de Serralves, e em museus e galerias internacionais de relevo como o Centro de Arte Reina Sofia, de Madrid, Paula Rego tem entre as suas obras mais citadas S. Vomiting the Pátria, O Cadete e a Irmã, A Dança, e as séries Vivian Girls, Aborto, O Crime do Padre Amaro, Dog Woman e Possession.