Fotografia
Neste Apartamento, Igor liberta-se de corpo e género
Apartamento é o mais recente trabalho do fotógrafo Igor Pjörrt. O projecto representa a existência de um palco – o apartamento – que permite questionar a consciência social do corpo tanto num espaço privado como público e, ao mesmo tempo, a procura diária de uma libertação da visão binária sobre o género.
De apartamento em apartamento. Assim foi a infância de Igor Pjörrt. Agora, com 24 anos, fez nascer um projecto fotográfico inspirado neste preambular que o obrigou a adaptar-se constantemente a um novo espaço e a transportar sempre consigo uma “bagagem não só física, mas também emocional”, conta ao P3.
Nunca escondeu a sua “relação complicada” com a ilha que o viu crescer, a Madeira, como contou ao P3 em 2016. No entanto, com o surgimento da pandemia de covid-19, ficou quase cinco meses confinado na sua terra natal, o que o fez recordar o passado e, com isso, encontrar um tema para o seu projecto de mestrado em Fotografia, na Suíça, ao qual chamou Apartamento.
“Na minha infância, eu e a minha família mudámo-nos muitas vezes de apartamento no mesmo condomínio por causa de problemas financeiros. Era quase o mesmo apartamento, mas cada vez mais pequeno”, recorda. A partir dessa lembrança, o jovem começou “a estabelecer paralelos" — "entre esta ideia de movimento com a ideia de habitarmos num corpo durante a nossa vida e de como estamos em constante transformação”, explica.
Igor quis que o tema ligado a este projecto passasse também pela identidade de género. Na Madeira, vivia com o “sentimento de ser oprimido socialmente e geograficamente” na abordagem desta questão e crescer "com uma mãe solteira foi muito importante". “Era quase um matriarcado, onde ela me puxava a explorar a minha parte feminina, mas ao mesmo tempo também me pressionava a assumir a minha masculinidade. A certa altura, senti que tinha de abandonar o feminino, quando, na verdade, os dois podiam coexistir”, garante.
Para desenvolver a ideia pensou na identidade e na individualidade “que a publicidade usa como uma técnica de venda, onde o produto em questão já não é tanto o produto em si, mas sim o contexto social, racial e de género” onde se insere. A intenção de Igor era criar imagens onde há “muita ambiguidade” e onde “a identidade de género não existe isolada” para que fosse possível “abrir espaço para uma discussão”.
Texto editado por Amanda Ribeiro