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Sentir, mais que viver. Eis a Senhora d'Agonia de 2020
“Tem de se ter cuidado com o sítio onde se põe o ouro. E o lenço tem de ficar em condições”, detalha Francisca Rocha, enquanto se prepara para sair à rua com o traje escuro de mordoma. Mas o acerto de todos os pormenores conta sempre com as mãos da mãe, Raquel. Neste ano, a paixão de ambas pelos trajes de Viana do Castelo, alimentada pelo Rancho Folclórico das Lavradeiras de Vila Franca, é proporcional ao vazio que o confinamento de grande parte da Romaria d’Agonia suscita. “A festa faz-nos muita falta, mas é sempre um orgulho ver a minha filha trajada para mostrar as nossas tradições”, declara Raquel Rocha.
Sempre que veste aquele traje, habitualmente envergado no desfile da mordomia, a chieira desperta dentro de Francisca. E poder sair à rua em Agosto, após as provações da covid-19, tem um “sabor especial”. Mas a rua tem menos gente “comparativamente aos outros anos”, desfia triste a mordoma, de 22 anos. Dos carrosséis que rotineiramente ocupavam o campo da Senhora d’Agonia nem um sinal. Vê-se, sim, uma imagem familiar sobre um andor enfeitado de flores, em frente ao santuário. “Poder-me vestir e ver a Senhora d’Agonia é especial”, confessa Francisca ao deparar-se com o cenário.
Espalhadas pelo campo, estão 800 cadeiras, bem distanciadas entre si: a missa que celebra a padroeira dos pescadores a 20 de Agosto, o feriado municipal de Viana do Castelo, foi cá fora neste ano. Entre os crentes, há mulheres com trajes de cores e bordados vários, mas também gente com a roupa do dia-a-dia. Adereço inimaginável em romarias anteriores, a máscara vê-se em todos eles. E a devoção também, saltando pelos olhos fora na hora em que a Senhora d’Agonia deixa aquele espaço.
A Francisca Rocha também lhe custa dominar as emoções quando se recorda dos momentos já vividos na romaria e projecta a hora em que o seu esplendor volte a ocupar as ruas de Viana. “Nos outros anos, vivíamos a festa. Neste ano, estamos a senti-la, revivendo o que já passou. Para o ano, vamos vivê-la em dobro. Toda a gente em Viana sente esta romaria”. Tiago Mendes Dias