Ana encontrou no Tinder a cura para o coração partido

Memories Lost in Time and Space, da fotógrafa Ana Vieira de Castro, debruça-se sobre o que é o amor. É sobre “deixarmos de amar alguém e voltarmos a apaixonar-nos”. E, também, sobre reencontrar o amor no sítio onde menos se esperava: no Tinder.

©Ana Vieira Castro
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Um dia, Ana Vieira de Castro apaixonou-se. Mas a pessoa por quem se apaixonou não retribuiu o sentimento. “Ninguém merece, é injusto”, pensou. Triste, revoltada, a fotógrafa mergulhou numa fase de dor e incompreensão. “É um privilégio sentir aquilo que estás a sentir”, disse-lhe uma amiga. Seria?

A série fotográfica Memories Lost in Time and Space é “sobre descobrir o que é o amor”. É sobre “deixarmos de amar alguém e voltarmos a apaixonar-nos”. É, também, sobre reencontrar o amor de forma inesperada, no Tinder. Onde, disse a fotógrafa ao P3, encontrou “um mar de gente magoada e solitária que não acreditava no conceito de amor romântico”. Contra as suas expectativas, foi nesse mar revolto que encontrou o actual namorado.

Ana Vieira de Castro não foi parar ao Tinder de coração aberto. Em busca de respostas sobre o significado do amor, a fotógrafa traçou um plano. “Vou arranjar oito dates e fotografá-los em situações que eu considere emocionalmente significantes para mim”, contou ao P3, em entrevista por telefone. “Criei um perfil no Tinder, comecei a fazer match e a perguntar às pessoas o que pensavam sobre o amor.” Apresentava a ideia para o projecto, mas poucos se mostraram interessados em cooperar. “Não quero saber disso”, respondiam-lhe, salientando o verdadeiro motivo pelo qual estavam inscritos na aplicação. E temeu. “O jogo estava a virar-se contra mim.”

Durante o marasmo, Ana fotografou. Fotografou o tédio, o desalento. Fez um retrato fotográfico daquilo que vê e sente um coração partido. “Associo os carros estacionados, os sacos plásticos, o lamaçal, à paragem no tempo e à dor.” Essa abstracção, refere, é parte da sua identidade enquanto fotógrafa. Coleccionou, em paralelo, centenas de cartas de amor que encontrou nos antiquários do Porto, “cartas antigas, lindas, escritas por pessoas que nunca mais se viram”. Leu livros, mergulhou em sites sobre o tema. A pergunta subsistia: o que é o amor?

Chovia muito no Porto no dia em que aconteceu, finalmente, o seu primeiro encontro do Tinder. “Ficámos num café a conversar”, descreveu. “Ele definiu o amor de uma forma que me impressionou. Disse-me: ‘O amor acontece-me quando encontramos um melhor amigo com quem queiramos e possamos partilhar intimidade’.” Depois disso, a fotógrafa não marcou mais encontros. Tinha encontrado uma explicação satisfatória. E um novo amor.

Hoje, Ana acredita que o amor é um sentimento potencialmente temporário, uma espécie de “Hoje estou bem, amanhã vê-se”. Sente que, ao longo da vida, foi enganada por Hollywood, pelos filmes da Disney. “Eles dizem-nos, desde pequenos, que todos, um dia, iremos encontrar ‘aquela’ pessoa que vai ficar connosco para sempre, com quem vamos ser felizes. Mas o príncipe encantado nunca chega.” Chega apenas uma pessoa real, com quem é possível partilhar amor e sexo ao mesmo tempo por um bom bocado — ou, com muita sorte, para sempre.

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