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Dentro dos quartos minúsculos que guardam a frustração dos jovens de Hong Kong
Temem que Hong Kong se torne "mais uma cidade chinesa". Assistem e participam em manifestações que já deixaram de ser pacíficas, contra a intenção do governo local em aprovar uma lei que pode permitir a extradição de suspeitos de crimes para a China continental. Mas protestam também pela desesperança dos jovens, enclausurados em quartos minúsculos, em casa dos pais. A agência Reuters entrou em 11 desses quartos para conhecer quem ainda não conseguiu de lá sair.
Sentada na cama, num quarto de nove metros quadrados onde cabe ainda um armário e uma secretária, Maisy Mok diz que nunca conseguiria viver "sem liberdade de expressão" e "sátira política". "Se ficasse sem isto, mesmo com o dinheiro e benefícios que o continente poderia trazer, como habitações maiores, não ficaria feliz. Nós, que estamos habituados a este tipo de liberdade, poderíamos não nos habituar."
Os habitantes que estão a sair às ruas defendem uma "identidade de Hong Kong", afastada da identidade chinesa. Para já, o debate sobre a lei da extradição está suspenso, mas os habitantes dizem que não chega e exigem a demissão da chefe do governo local, Carrie Lam, que acusam de não ouvir as pessoas que governa. A região semi-autónoma tem as próprias leis e direitos civis que os chineses da parte continental não têm (como a liberdade de protestar, por exemplo). É, também, um dos sítios do mundo com o custo de vida mais elevado e com maior densidade populacional. Um apartamento tem, em média, 40 metros quadrados. Michael Ho, estudante universitário de 24 anos, diz que, por causa dos preços das casas, "é desesperante para as pessoas jovens crescerem e construírem as suas carreiras".
Os jovens entrevistados dizem que foram roubados do sonho de serem donos de uma casa na região onde cresceram. "Está a ficar pior, politicamente. A maior parte de nós está a tentar manter o que ganha. Se as coisas ficarem muito más, eu fujo", confessa Zaleena Ho, 22 anos, estudante de cinema. "Mas, para já, ainda estamos aqui a lutar."