Fotografia
Alia quer mostrar que as muçulmanas não são “tristes mulheres de véu”, nem precisam “de ser salvas”
Há dois anos e meio, “frustrada” pela forma “unidimensional” com que as mulheres muçulmanas são representadas, Alia Youssef decidiu agir. Juntou a paixão por fotografia à vontade de derrubar preconceitos e criou o The Sisters Project, em que através de retratos das “diversas, interessantes e inspiradoras” mulheres muçulmanas do Canadá tenta “mudar estereótipos”.
Já lá vão mais de 160 retratos e entrevistas a muçulmanas de 12 cidades do país. “Por causa dos estereótipos associados às muçulmanas nos media, sentia-me muitas vezes incompreendida pelos meus colegas em criança e adolescente”, conta a jovem de 23 anos por escrito ao P3. “Como uma adulta que não usa véu, não costumo ser alvo de discriminação, mas essa não é a realidade de muitas das minhas irmãs muçulmanas. No Canadá, as taxas de discriminação contra muçulmanos cresceram nos últimos anos e afectam desproporcionalmente as mulheres que usam hijab.” A estatística que Alia apresenta no site mostra-o: nos últimos três anos houve um aumento de 42% dos crimes de ódio contra muçulmanas no Canadá. E a islamofobia, diz, vê-se não só em pequenas coisas no dia-a-dia, mas também na política, por exemplo no veto migratório de Donald Trump ou na proibição do véu na Dinamarca.
Fotógrafa freelancer, actualmente a frequentar um mestrado em Cinema Documental, Alia cresceu no Cairo, no Egipto, até aos oito anos, altura em que a sua família partiu para Vancouver, no Canadá. Mudou-se entretanto para Toronto para estudar Fotografia — o projecto, que tem corrido a imprensa mundial, começou por ser o trabalho final do curso. Começou-o no Instagram, também inspirada no famoso Humans of New York, e para já não há fim à vista (mas não esconde que gostava de ver as fotografias e as histórias em livro).
Por enquanto, vai continuar a fotografar quem quiser participar. Dentistas, advogadas, poetas, atletas. “Quero mostrar que as mulheres muçulmanas são um grupo extremamente diverso de pessoas. Que viemos de diferentes partes do mundo, contribuímos para a sociedade numa plenitude de formas, que as nossas aspirações e medos são universais, que os nossos pontos de vida podem variar muito.” Que não são “mulheres sem voz, oprimidas, recatadas, indefesas, vítimas de uma religião patriarcal”. Que não são “tristes mulheres de véu” e “não precisam de ser salvas”, antes de serem encaradas como são: “poderosas, inspiradoras, interessantes, fortes, inteligentes e talentosas”.