Fotografia
“Brexit”: uma “automutilação voluntária”
O trabalho da artista e fotógrafa alemã Isabelle Graeff debruça-se, invariavelmente, sobre o tema da identidade — a sua primeira série fotográfica, My Mother and I, é um bom exemplo do tipo de abordagem a esta questão. Em 2015, novamente em busca da sua própria identidade, emigrou para o Reino Unido, o país onde acabaria por desenvolver o projecto Exit, que versa sobre o tema do "Brexit" e incide sobre as transformações que a cisão irá operar no âmago da união política anglo-saxónica.
Entre Agosto de 2015 e Junho do ano seguinte, Isabelle Graeff viajou pelos quatro estados que compõem o Reino Unido — a Escócia, a Inglaterra, a Irlanda do Norte e o País de Gales — e encontrou um território profundamente dividido, em crise, na iminência de um referendo. A alemã apercebeu-se claramente do crescendo de intensidade dos sentimentos antieuropeus e anti-imigração no discurso dos cidadãos.
À Sleek Magazine, adiantou que considera esta mudança incompreensível. "É uma atitude que entra em choque com o ADN do Reino Unido, uma vez que a internacionacionalidade sempre foi um aspecto-chave da cultura britânica", argumenta. "Fiquei estupefacta perante o facto de os anti-europeistas terem sido capazes de mudar isso." A alemã encara o "Brexit" como uma "automutilação voluntária" por parte dos votantes, lembrando que o encerramento de fronteiras nunca foi prenúncio de tempos de paz ou bonança. "É importante lembrar que, há menos de 75 anos, a Europa estava em guerra. Como se atrevem, tendo isto em mente, a destruir esta união?"
Ao P3, Isabelle explicou que a campanha pró-"brexit" se sustentou na ideia de que existe um inimigo nacional que só poderia ser combatido através do abandono do Reino Unido da União Europeia. “As consequências podem equiparar-se a autoflagelo. A libra, por exemplo, já sofreu uma desvalorização. Tendo isto em mente, qual será o impacto nas relações comerciais com outros estados?” A fotógrafa crê que o Reino Unido "sofrerá grandemente". "Toda a gente sabe disto e concorda, mas ninguém é capaz de colocar um travão a este processo."
O projecto Exit, que a Hatje Cantz editou em formato de fotolivro, é sobre "convulsão, mudança, desenvolvimento", sobre "encerramento, novos começos, abandono e regresso", sobre "pertença, herança e auto-determinação". Graeff encara-o mais como um poema do que como uma declaração política, uma vez que, segundo a editora, aborda também o confronto da artista com os sentimentos decorrentes de processos de abandono, afastamento da vida familiar e de um processo de corte com o passado.