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LGBTI: An e Ye querem mostrar que, mesmo na China, “uma família só precisa de amor para o ser”
An Hui e Ye Jiabian desafiam os estereótipos na China quando passeiam com os trigémeos An Zhizhong, An Zhiya e An Zhifei, na província de Guangdong, no Sul do país. Uma família pouco convencional, num país onde até 2001 a homossexualidade figurava na lista de doenças mentais. “Tenho sorte porque nasci num período de rápida mudança. Hoje em dia, a sociedade é muito mais tolerante”, diz An Hui, gestor de investimentos, à Reuters. “Se tivesse nascido durante a Revolução Cultural, estaria morto.”
An e Ye conheceram-se em 2008, 11 anos depois de a homossexualidade ter sido legalizada na China. Mas, apesar de não ser ilegal, os casais homossexuais não possuem qualquer tipo de protecção legal e não há perspectivas para que a legalização dos casamentos gay aconteça. Apesar de, actualmente, existirem nas grandes cidades fortes comunidades gay, a comunidade LGBTI (Lésbica, Gay, Bissexual, Transgénero e Intersexo) continua a ser alvo de pressões familiares e sociais e o casamento heterossexual é considerado uma obrigação moral para com os pais.
Ainda assim, An e Ye decidiram que queriam ter filhos e, recorrendo a uma dadora de óvulos — uma modelo alemã — e a uma barriga de aluguer — uma mulher tailandesa —, conseguiram, em 2014, formar uma família. À Reuters, An não quis identificar a empresa que coordenou o processo, nem a mulher que doou os óvulos.
À agência noticiosa, Yanzi Peng, director do grupo LGBT Rights Advocacy na China, conta que o Governo no país ainda não adoptou uma posição clara acerca da comunidade LGBT. “A melhor palavra para descrever a atitude do Governo chinês é ‘ignorar’”, refere. “É difícil categorizar a atitude exacta. Eles não se opõem directamente à comunidade LGBT, porque sabem que isso iria contra os padrões internacionais”, continua.
Outras instituições de defesa dos direitos da comunidade LGBT defendem que a China deveria ser mais permissiva relativamente à adopção por casais gay. “Casais homossexuais não têm como recorrer legalmente à tecnologia reprodutiva. Muitas pessoas vão a outros países pagar quantias muito altas para ter filhos”, explicou Bin Xu, director de um grupo de defesa dos direitos LGBT sediado em Pequim.
An acredita que é altura de se repensar a visão tradicional de família e casamento, num momento em que a China enfrenta um processo de envelhecimento da população e um declínio da taxa de natalidade. Em 2015, o país aboliu a política do filho único e os casais passaram a poder ter até dois filhos. Este ano, um balanço mostrou que a medida poderá não ter sido suficiente, uma vez que os problemas demográficos se mantiveram. Por isso, começou a ser estudada a possibilidade de ser levantada a limitação de dois filhos por família.
Ainda assim, o conservadorismo mantém-se: “Na China, muitas pessoas acreditam que uma família é um laço entre um homem e uma mulher, mas esse não é necessariamente o caso”, diz An. “Se um homem solteiro tem filhos, uma mulher solteira tem filhos, dois homens ou duas mulheres têm filhos, então para estas pessoas elas têm uma família”, refere. Afinal “uma família precisa de amor para o ser, não tem nada a ver com sexualidade”.