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Em Moçambique, há pedras preciosas que custam sangue, suor e lágrimas

©Luís Godinho
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Na mina de Thatha, na região Norte de Moçambique, homens, mulheres, adolescentes e crianças cavam enormes buracos em busca das pedras que poderão vir a resgatá-los da pobreza. Não se tratam de simples pedras — ou talvez sim —, mas das semi-preciosas pedras granada. "Enquanto numa parte do planeta as pessoas exibem, orgulhosas, anéis e colares com pedras preciosas, noutra seres humanos em condições degradantes escavam nas profundezas para as encontrar", observa o fotógrafo Luís Godinho, em comunicado dirigido ao P3.

O açoriano deparou-se, na província de Cabo Delgado, com um cenário que qualificou como "assustador". "Pensei que, nos dias de hoje, já ninguém trabalhasse nas condições que encontrei." Luís conta que os membros da comunidade Mahera trabalham sobretudo descalços, munidos apenas de uma pá e de uma picareta. "Escavam desenfreadamente centenas de quilómetros de terra, a profundidades superiores a 15 metros." Nas laterais das grandes covas, desabaram algumas das galerias que os mineiros improvisaram, o que já provocou a morte de várias dezenas. "Os terrenos são do Governo, mas a exploração é ilegal", esclarece o fotógrafo. "Não tem condições mínimas de trabalho, quer ao nível da higiene como da segurança." A única refeição diária de muitos dos garimpeiros de granadas são ratos cozinhados em pequenos caldos de ervas. Pernoitam em pequenas barracas "onde existe apenas uma pequena cama", descreve. E mesmo essa nem sempre está presente.

Em torno da mina, meninas de idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos prostituem-se em palhotas localmente conhecidas como "colômbias". As crianças que trabalham no local abandonam prematuramente a escola, "atraídas pelo dinheiro ou forçadas pelos pais a trabalhar", justifica o fotógrafo. A taxa de casamentos precoces aumentou, assim como os casos de VIH-SIDA e tuberculose.

A história da exploração mineira na região teve início em Agosto de 2013, de acordo com os habitantes do distrito. "Um grupo de homens da Tanzânia andava pelas matas à procura de rubis", narra Luis Godinho. "Em vez disso, encontraram pedras granada espalhadas pelas machambas." Determinados, os tanzanianos deram início à exploração, sub-contratando, ilegalmente, os habitantes de Cabo Delgado. "Todos na região tinham conhecimento da existência dessas pedras" e muitos quiseram tentar a sua sorte. Presentemente, todas as pedras extraídas com recurso ao sangue, ao suor e às lágrumas deste grupo de moçambicanos são vendidas para os mercados chinês e tailandês.

Luís Godinho — @luisgodinhophoto no Instagram — é natural de Angra do Heroísmo e foi distinguido, em 2017, pelo concurso Sony Awards, momento em que foi também entrevistado pelo P3 a propósito da série fotográfica que desenvolveu no Senegal.

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