Arquitectura
Arquitectura: ilustrações “descomplexadas” de um “atelier inocente”
Gostam de virar o programa ao contrário, fazer uma curva onde se espera uma recta, arriscar. E, em parte por causa disso, costumam auto-denominar-se "atelier de arquitectura inocente": porque têm um lado "alucinado e descomplexado" que lhes permite escolher sempre um caminho por fazer a um caminho já feito. Mesmo que o segundo tenha provas dadas e o primeiro seja uma incógnita. É o Fala Atelier, um gabinete de arquitectura com sede na Rua da Fábrica, no Porto (mas com mudança programada para meados do ano), onde os desenhos dos projectos são ilustrações — algumas delas já expostas em museus. Filipe Magalhães sublinha que tais desenhos "não são uma obras de arte" (ainda que pareçam), mas sim "uma ferramenta de trabalho".
Tudo começou, na verdade, por necessidade. Filipe e Ana Luísa Soares, ambos formados na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, tinham passado alguns anos a trabalhar fora — entre a Suíça e o Japão — e regressaram a Portugal com vontade de abrir algo deles. Uma atitude "irresponsável", graceja Filipe, já que por terras lusas a crise era coisa bem visível: "Havia pouco ou nenhum trabalho, mas também havia poucos ou nenhuns ateliers jovens". Vai daí que, entre os pingos da chuva, foram-se "desenrascando". E um ano depois convidaram Ahmed Belkhodja, arquitecto que tinham conhecido no Japão, a juntar-se a eles. O Fala Atelier foi crescendo (já são dez), contrariando o "conservadorismo" da arquitectura portuguesa com aposta em projectos arrojados. Da reabilitação estão agora a conseguir transitar para a construção de habitações de raiz — e até já projectos culturais, com o Rivoli e Serralves, fizeram.
Mas nos primeiros tempos, para garantir alguma estabilidade financeira, os arquitectos precisavam de trabalhar noutros ateliers. Dessa "falta de tempo e recursos" surgiu então a ideia das ilustrações: "Conseguíamos fazer em 45 minutos uma coisa que de outra forma demoraria dias", explica Filipe Magalhães. As ilustrações do Fala Atelier não procuram a perfeição, são "descomplexadas". Mas revelaram-se muito eficazes: "O cliente percebe a ideia da imagem e não se fixa em pormenores". O processo é manual e digital. Pelos computadores do atelier há uma enorme biblioteca de material pronto a usar: recortes de revistas, de pintores conhecidos, de texturas. Há um momento de desenho. E o trabalho segue depois entre o Autocad e o Photoshop, com "colagens" que se tornaram imagem de marca. Há uma "coerência" entre as várias ilustrações, feitas por todos os arquitectos do Fala Atelier, ainda que Filipe Magalhães consiga distinguir perfeitamente quem fez cada um deles. Alguém se aventura a tentar?