Arquitectura
ArchDaily: adega portuguesa vence Prémio Edifício do Ano 2018
É uma adega de outro mundo. Escondida, serpenteante debaixo da terra, que mal se consegue distinguir na grande planície do Redondo — é, também, uma "adega em redondo", descreve ao P3 o arquitecto Frederico Valsassina, sem prender o riso, depois de se aperceber da inadvertida chalaça em torno da sua adega da Herdade do Freixo, aqui fotografada por Fernando Guerra. O projecto, soube-se esta quarta-feira, 7 de Fevereiro, foi um dos escolhidos pelos leitores do ArchDaily para edifício do ano de 2018 na categoria de Arquitectura Industrial, depois de ter recebido uma menção honrosa nos Prémios FAD 2017 e uma nomeação nos Prémios Construir 2017.
Já na Fugas se escrevia, em finais de 2016: "A adega da Herdade do Freixo é muito grande. E, no entanto, quando olhamos à nossa volta, a paisagem do Alentejo estende-se a perder de vista e, de adega, nem sinal." Tirando uma ou outra abertura "discreta". Mas, continua Alexandra Prado Coelho, sobre esta "adega Guggenheim", "daqui a algum tempo", quando a vinha plantada sobre ela crescer, "nem isso será visível". Há duas semanas, Valsassina voltou ao local e disso mesmo se apercebeu. Tirando umas típicas chaminés que despontam da vinha, as responsáveis pela ventilação, poucos se apercebem de que ali há uma adega com uma espiral que se desenrola até 40 metros de profundidade. "É uma discussão que existe muito hoje, da negação da arquitectura — fazer uma intervenção no sítio sem parecer que houve arquitectura", descreve Valsassina, que venceu o concurso internacional lançado pela Herdade do Freixo "há já bastantes anos". Os proprietários, recorda, pretendiam construir uma adega para dar reposta ao "grande investimento que estavam a fazer na vinha", mas que também ficasse "integrada" no povoado, que fosse a "continuação da própria paisagem".
Assim foi. Se, no início, não pensavam enterrá-la integralmente, depressa o projecto avançou nesse sentido. Ao fim de um ano de obras, submergiu uma adega quase invisível, feita com apenas um material (barramento cimentício), da cor da terra que a cobre. Lá dentro, há dois percursos — para os trabalhadores e para os visitantes — num edifício "em redondo", marcadamente acessível.
Quanto ao prémio propriamente dito, Frederico Valsassina estava "expectante". É, diz, uma distinção, "mais interessante" e "abrangente" do que muitas outras, precisamente por se tratar de uma votação de leitores. De acordo com o portal de arquitectura, foram recebidos quase cem mil votos nas últimas duas semanas para os Prémios ArchDaily Buidling of the Year 2018, que ajudaram a eleger os 15 melhores trabalhos apresentados no portal de arquitectura em 2017. Entre os vencedores estão reputados gabinetes como Foster + Partners, com uma loja da Apple em Chicago, e o OMA, de Rem Koolhaas, com um edifício de escritórios em Haia, mas também "heróis até então desconhecidos" — é o caso do projecto do atelier Emergency Architecture & Human Rights para salas de aulas para crianças refugiadas em Za'atari, na Jordânia. E há ainda projectos que "desafiam a crença comum de que os melhores exemplos de arquitectura ainda se concentram apenas em partes historicamente privilegiadas do mundo, como os EUA, a Europa e o Japão": como, diz o portal, a Fundação Santa Fé de Bogotá e o Museu de Arte Contemporânea Zeitz, na Cidade do Cabo. A lista completa dos vencedores pode ser consultada aqui.
Estavam nomeados mais dois projectos portugueses para Edifício do Ano: o GS1, do atelier PROMONTORIO, e o edifício de Francisco e Manuel Aires Mateus para a Faculdade de Arquitectura de Tournai, na Bélgica.
Artigo actualizado às 13h42 com as declarações do arquitecto Frederico Valsassina