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Naturismo: encarar, sem medos, “a beleza de um corpo nu”

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"Desde crianças que aprendemos que é impróprio estar nu ou olhar para pessoas nuas publicamente", afirmou o fotógrafo norte-americano Matt Hamon, em entrevista ao P3. "É estranho. Ao mesmo tempo que somos receptivos, por exemplo, à violência gráfica – que está constantemente presente nos cinema e na televisão –, receamos encarar a simples beleza de um corpo humano nu." Matt cresceu no seio de uma família que apelida de "liberal". "Ao longo da minha vida, tive inúmeras oportunidades de estar nu [publicamente], sobretudo enquanto nadava. A minha família anda despida em casa muitas vezes." No entanto, a curiosidade foi um factor preponderante no acto de inscrição na residência artística Naked State, promovida pela Bare Oaks Family Naturist Park, em Toronto, no Canadá, que propõe a criação de obra artística no contexto naturista. Depois de ter sido seleccionado pelo comité de avaliação, Matt passou dez dias no parque, onde desenvolveu a série de retratos Gymnosophy.

O naturismo e o nudismo são conceitos diferentes. "O naturismo é um estilo de vida que tem por base a promoção de uma auto-imagem corporal saudável; o nudismo é apenas a prática ocasional da nudez em contexto público", esclarece Matt. "O naturismo é uma resposta ao problema do estereótipo de beleza que foi criado pelos meios de comunicação social, dentro da nossa cultura." A "filosofia" naturista está, segundo o fotógrafo, "intimamente ligada ao culto da saúde física e psicológica". "Estar nu constantemente, na presença de amigos, família e, sobretudo, de estranhos, exige que uma pessoa aceite o seu corpo tal e qual como é e que aceite os corpos dos outros na mesma medida. Acho que as inseguranças e os tabus associados ao corpo se devem ao facto de estarmos invariavelmente vestidos. Seríamos uma sociedade muito mais saudável se estar nu fosse considerado tão normal quanto o contrário."

Como é a sensação de passar o dia inteiro despido? O website do Parque Naturista canadiano explica tudo, o fotógrafo dá-nos algumas pistas: "É quase sempre confortável e quase sempre conveniente". "Claro que a roupa é necessária em algumas situações, sobretudo em contexto desportivo e laboral. E quando está frio." Os amigos e familiares do fotógrafo estavam preocupados com uma questão sensível: como reagiria o corpo de Matt perante a nudez de alguém por quem se sentisse atraído sexualmente? "A sexualidade saudável está mais relacionada com uma ligação intelectual do que com o estímulo visual", esclareceu. "Nunca foi um problema estar despido perante outras pessoas. Gostei do facto de, em todas as interacções, ambas as partes estarem vulneráveis."

Foi difícil encontrar voluntários para os retratos de Gymnosophy? "As pessoas raramente se sentem preparadas para um retrato", observa o fotógrafo, "sobretudo a nu". Fotografar ou filmar sem permissão, dentro do parque, é proibido, mas quase toda a gente aceita ser retratada. "Algumas pessoas não querem, mas há até quem me procure depois de saber que estou a fazer retratos. Em última instância, nenhum naturista tem qualquer problema em ser visto nu e, portanto, também não tem qualquer problema em ser retratado nu."

Durante o período em que estudava na faculdade, Matt Hamon foi assistente de câmara-escura do fotógrafo norte-americano Jock Sturges, cujo trabalho esteve, recentemente, envolto em polémica por conter retratos de meninas e jovens adolescentes nuas – que muitos consideram de cariz sexual. "Gosto do trabalho dele e é possivelmente uma inspiração para esta série", comenta. "As poses em que [Jock] fotografa [os seus modelos] são concebidas para acentuar os paradigmas de beleza vigentes (e que estão associadas à juventude). Eu tento criar poses em cenários que sugerem um contexto narrativo, para que possamos olhar a pessoa e ver para além do seu corpo. Também por isso vemos [em Gymnosophy] corpos menos 'ideais', de ambos os géneros e de todas as idades."