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Ele faz tatuagens para esconder cicatrizes de cesarianas
"Todas as meninas querem ser bonitas e eu também!", disse a chinesa Wang Ruoyu, de 37 anos de idade, à agência Reuters, confirmando que a sua auto-estima melhorou após ter tatuado uma coroa alada sobre a cicatriz que resultou da cesariana a que se submeteu há vários anos. Wang Jing, de 46 anos, optou por tatuar um gato. "Quando me esticava para agarrar algo, a minha barriga ficava exposta. Não era uma visão muito agradável", explicou à Reuters. O jovem tatuador Shi Hailei, proprietário da Samurai Tattoo, em Xangai, acredita que as tatuagens tornam estas mulheres mais confiantes; é por isso que desde 2015 realiza seis tatuagens gratuitas por mês sobre cicatrizes de cesarianas. Por vezes, explica, chega a haver lista de espera. Tatuar sobre uma cicatriz não é uma tarefa simples: a pele é mais suave e maleável do que noutras partes do corpo e cada cicatriz é única e requer planeamento no que toca à integração de um desenho. Grace Yuan, instrutora de dança do ventre e mãe de uma menina de três anos, sentia vergonha da sua cicatriz. "Sentia-me desconfortável, especialmente quando usava uma saia de cinta descida", explica. "Agora posso dançar livremente sem preocupações ou embaraços." O trabalho de Shi Hailei é inspirado no da artista brasileira Flávia Carvalho, que tatuava sobre cicatrizes de mulheres vítimas de violência doméstica; acredita assim estar a trabalhar em prol do bem-estar e auto-estima das mulheres chinesas que foram mães através de cesariana — algo que não é, de todo, incomum na China, que tem a taxa de nascimentos por cesariana mais alta do mundo. Entre 2004 e 2008, metade dos nascimentos no país foram fruto deste procedimento, segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde de 2010. O governo chinês começou por promover a adopção deste método por crer que exige menos cuidados de enfermaria do que um parto natural, o que tinha impacto no tempo de internamento e, consequentemente na despesa pública, num período em que os nascimentos em contexto hospitalar atingiam níveis sem precedentes. Instalou-se, mais recentemente, entre as mulheres chinesas, a crença de que uma cesariana é menos morosa e mais segura do que o parto vaginal, motivo por que hoje são as próprias mulheres — segundo testemunhos dos médicos obstetras chineses — que optam por esta via.