Um hotel não para turistas mas para doentes

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Sentada na cama, Wang toma o pequeno-almoço que o marido preparou. Abre uma pequena embalagem branca de onde escorregam vários comprimidos pretos para a palma da mão. Está a 750 quilómetros da sua casa, num quarto de hotel, com uma televisão e uma ventoinha. Tal como a maior parte dos hóspedes, Wang não veio visitar a cidade: está à espera do início do tratamento para combater um cancro. Na periferia dos melhores hospitais de Pequim, na China, começou a surgir uma rede de edifícios em tijolo, ligados entre si através de corredores estreitos. É a casa temporária de quem vive fora das grandes cidades, sem acesso a bons médicos e cuidados de saúde de qualidade, e tem ainda poucas capacidades financeiras. Estes hotéis estão espalhados pelo país, perto dos grandes hospitais e recebem em média por ano mais de três milhões de pessoas diagnosticadas com cancro e à espera de tratamento. “Há um desequilíbrio entre as grandes cidades e as pequenas. Os bons médicos não querem trabalhar nas cidades pequenas”, disse Liu, marido de Wang. “Se temos uma doença grave, o melhor a fazer é ir para Pequim”. A sua mulher, Wang, 42 anos, foi diagnosticada com cancro do colo do útero no início do ano. Ambos deixaram o interior da Mongólia para viver num quarto de hotel, pelo qual pagam cerca de 70 yuan - cerca de 10 euros - por noite, metade do preço de uma cama de hospital. A procura por estes hotéis é cada vez maior: segundo o gerente de um dos hotéis, a maior parte dos hóspedes acaba por ficar alguns meses ou até um ano nos quartos, à espera do tratamento. Segundo dados oficiais, 44% das famílias vive na pobreza devido aos elevados gastos com problemas de saúde. “A parte mais complicada para nós é o dinheiro. Onde vivemos, as famílias são pobres. Temos de pedir dinheiro emprestado para o tratamento”, disse Pan, que vive há três anos num hotel em Pequim, após a sua mulher, Huang, ter sido diagnosticada com cancro rectal. “Somos agricultores, já gastámos mais de 270 mil yuan - cerca de 36 mil euros - desde 2013”.