Fotografia
A vida num colonato israelita na Palestina
Estamos na Cisjordânia, num colonato judaico em Mitzpe Agit, mais específicamente na casa da família Goldburt. Gedalia tem 41 anos, é ultra-ortodoxo Na Nach e vive no topo de uma montanha com a sua esposa e sete filhos. A sua casa é feita à base de ferro, contraplacado e postes telefónicos e, à semelhança do que acontece às sete "casas" vizinhas, é considerada ilegal pelas Nações Unidas, pelo Tribunal Internacional de Justiça e pelas Partes Contratantes na Quarta Convenção de Genebra. "Neste tipo de assentamentos vivem geralmente as famílias mais religiosas, as mais nacionalistas", disse ao P3 o fotógrafo italiano Pietro Masturzo, via Skype. "Mas existem excepções. Os Goldburt limitam-se a tirar vantagem da situação política, nada lhes importa senão o facto de ser relativamente fácil sobreviver. Têm carros, electricidade, água, tudo o que necessitam para sobreviver."
O casal e os sete filhos vivem de forma simples. Ele alimenta as cabras, repara a casa, dança música tecno na rua e vende autocolantes para automóveis na cidade; Shira, a esposa, ensina as crianças em casa e realiza tarefas domésticas. "Eu peço a Deus todos os dias - não, não dinheiro - que nos dê comida, que o sustento caia do céu directamente nas nossas bocas", disse Gedalia ao fotógrafo quando questionado sobre o modo de subsistência da família. A realidade, esclarece o fotógrafo, é bem mais pragmática. A Organização Sionista Mundial financia a permanência dos colonos através da atribuição de subsídios directos. "Eles querem que estejamos cá", disse Gedalia a Masturzo. "Se não lhes agradasse, fariam com que nos fôssemos embora." Gedalia é, surpreendentemente, de origem russa, não israelita. Nasceu em Minsk e foi expulso durante a vaga anti-semita que assolou a União Soviética nos anos 70. Exilou-se nos Estados Unidos, em Chicago, onde cresceu ao som de rock psicadélico e frequentando Rainbow Gatherings. Aos 23 anos, teve um momento de revelação e decidiu mudar-se para Israel, onde conheceu Shira e se apaixonou pelo movimento Na Nach. Foi apenas após 12 anos que decidiu mudou-se para a Cisjordânia. A sua permanência - e a dos restantes colonos israelitas em território palestiniano - é incentivada pelo governo de Israel, numa manobra de conquista territorial que se tem revelado eficaz desde a guerra de 1967. "Factos no terreno" (tradução livre de "facts on the ground") é uma expressão utilizada por israelitas para caracterizar a estratégia adoptada; em termos prácticos, significa criar condições "no terreno" que tornem a ocupação territorial num processo irreversível. Actualmente, cerca de 341 mil colonos judaicos vivem em território palestiniano, sendo que três quartos habitam em pequenas aldeias espalhadas pelo pouco que resta da Palestina. Este número aumenta 5% cada ano. "Regressei várias vezes após a realização deste projecto e pude observar uma normalização do conflito, não tem termos de redução da violência, mas sim em termos da aceitação da sua natureza crónica", esclarece Mastruzo. "Postos de segurança, desvios forçados, detenções indiscriminadas fazem parte de um quotidiano marcado pela dominação e não pela precariedade de uma guerra que se imagina temporária." O trabalho do fotógrafo enfoca em temas socio-políticos, "com interesse especial na resistência de povos que enfrentam opressão e violação dos seus direitos básicos", refere no seu website. Em 2010 ganhou o prémio de "Fotografia do Ano" do World Press Photo com um projecto realizado no Irão.