A arquitectura de um campo de refugiados, “sem pena”

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Quando começou o projecto “Cidades invisíveis — arquitectura do êxodo”, Marco Tiberio queria fazer uma reportagem sobre o dia-a-dia de um campo de refugiados. Estávamos em Maio de 2015 e a crise dos migrantes marcava a agenda política internacional. O fotógrafo italiano decidiu focar-se nas habitações improvisadas do campo francês de Calais, cujo desmantelamento tem sido adiado pelas autoridades daquele país nos últimos meses. Tiberio não queria fazer mais um trabalho sobre refugiados e optou por “uma outra perspectiva”, explica ao P3 por e-mail. Nas imagens desta série, as pessoas estão quase sempre ausentes mas o elemento humano sente-se. “Tentei ser o mais directo possível porque um estilo frio não é algo a que estejamos habituados nestes temas sensíveis. Achei que excluir as pessoas tornaria as fotografias mais íntimas e humanas.” O foco são as tendas feitas casas, cobertas com plásticos e panos, telhados de palha ou estruturas de madeira: uma selva, como é conhecido o campo que acolhe mais de 7.000 pessoas. Marco Tiberio visitou Calais várias vezes — tantas que até já lhes perdeu a conta — entre Janeiro de 2015 e Março de 2016. O facto de falar sete línguas (italiano, inglês, francês, castelhano, árabe, turco e arménio) ajudou-o durante as visitas ao campo, onde pôde perceber diferenças entre os migrantes: os provenientes de África tinham mais conhecimentos sobre construção de habitações, enquanto que os do Médio Oriente não tinham essa cultura. Baseado na cidade italiana de Ravenna, o jovem de 28 anos fundou o estúdio criativo DeFrost com a designer Maria Ghetti e produziu uma curta documental sobre a população de Lampedusa, “Beyond the fortress”. Em “Cidades invisíveis — arquitectura do êxodo”, o fotógrafo quis mostrar “as capacidades e a resiliência” dos migrantes. “Quis que as pessoas se focassem em algo que não a pena.” A barreira física que separa Calais de França tornou-se “numa fronteira psicológica entre os refugiados e os europeus”, considera Tiberio, ainda que todos estejam tão próximos. Por agora, o projecto está a evoluir para uma publicação, com edição prevista até fim de Outubro. Com o DeFrost Studio, o fotógrafo desenvolveu algo “para forçar as pessoas a olhar para a questão de outra forma”, uma espécie de “catálogo imobiliário com as propriedades do campo”. “Às vezes tenho a sensação de que apenas ver os migrantes nas costas, no meio do mar ou nos campos, aumenta a distância entre eles e nós.” AMH