Os “olhos tristes” dos cães abandonados à espera de adopção

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Um dia, Cláudio Vicente recebeu uma chamada. Um voluntário como ele, da Associação Protectora dos Animais da Marinha Grande (APAMG), alertava-o para um cão que fora atropelado, atirado pela janela de um carro em movimento. Quando chegou, o animal estava à beira da estrada, imóvel, combalido. O operário fabril de 37 anos julgou-o morto, até que, de repente, de surpresa, o cão abriu os olhos. Quem sabe para uma nova vida. "Estava em choque", diz o fotógrafo amador, recordando uma das muitas histórias emocionantes que viveu nos últimos anos. Esta teve um final feliz: o cão foi tratado e adoptado na Alemanha. Mas nem todas são assim — e o projecto fotográfico "Vidas à espera" quer sensibilizar para a importância da adopção responsável. Tudo começou em 2011, no dia de Natal, quando Cláudio acompanhou a sua companheira de então, voluntária da APAMG, numa limpeza no canil municipal. Ao ver o "olhar triste" dos animais, decidiu-se a captá-lo. Primeiro para o projecto final do curso de fotografia que frequentava, depois enquanto membro da associação. Há seis anos que, a preto e branco, retrata emotivamente os cães que "estão à espera de uma nova vida, de ir para casa, de ter alguém que trate deles". E documenta, e sente, a "tristeza" destes animais, abandonados e mal-tratados, que aguardam, indefinidamente, uma nova esperança. Através da fotografia, a sua forma de voluntariado, espera não só "promover a adopção e alertar para os maus-tratos", mas também sublinhar a importância do trabalho das associações como a APAMG — nem toda a gente sabe "o que custa" este tipo de actividade. A seu cargo, a associação tem cerca de 50 cães em permanência no canil municipal, mais alguns em Famílias de Acolhimento Temporário; também cuidam de cerca de cem gatos. "Os números estão elevados, nota-se um aumento", sublinha o fotógrafo, para quem é urgente dotar o canil da Marinha Grande de "condições dignas" (há um novo espaço quase pronto, ainda sem data de abertura) e "aumentar as ajudas camarárias". No fim de contas, aponta para uma mudança de mentalidade: "Espero que as pessoas se consciencializem que existem animais. Que não os comprem, que os adoptem, e que olhem para eles de outra forma". Olhos nos olhos. AR