Alexis Santos superou a barreira invisível

Portugal voltou a estar numa meia-final da natação olímpica 28 anos depois. Nadador do Sporting foi 12.º nos 200m estilos.

Foto
Imagem de arquivo de Alexis Santos GLYN KIRK/AFP

Os sonhos às vezes tornam-se realidade e Alexis Santos mostrou-o no Estádio Aquático Olímpico do Rio de Janeiro ao ultrapassar uma daquelas barreiras invisíveis: pela primeira vez em 28 anos, a natação portuguesa esteve representada numa meia-final. O jovem de 24 anos fez história ao terminar na 12.ª posição dos 200m estilos e sucedeu a Alexandre Yokochi, que em Seul 1988 nadou os 200m bruços e foi nono classificado.

Yokochi continua a ser o único nadador português a ter marcado presença numa final olímpica (sétimo nos 200m bruços, em Los Angeles, 1984), mas Alexis Santos quer fazer-lhe companhia em breve: “Espero que na ‘terra dele’, em Tóquio 2020, possa ficar mais perto do resultado dele, ou ultrapassá-lo. Se fizesse o mesmo resultado já era algo de extraordinário”, afirmou o nadador do Sporting, em declarações aos jornalistas após a meia-final desta noite. Não seria a primeira vez que Alexis Santos sucederia a Yokochi. Em Maio, nos Europeus de piscina longa, conquistou a primeira medalha (bronze nos 200m estilos) portuguesa desde 1985, quando Yokochi alcançara a prata.

Ainda não deu para interiorizar a dimensão dos feitos obtidos, admitiu Alexis Santos: “É tudo muito recente. É muito tempo sem um nadador entre os 16 primeiros, e eu espero que agora haja uma mudança.”

Alexis Santos trazia das eliminatórias uma marca de 1m59,67s mas não conseguiu melhorá-la na meia-final, concluindo os 200m estilos com 2m00,08s que o colocaram no 12.º lugar no conjunto das meias-finais. “Estou feliz com a classificação mas um pouco desiludido com o tempo. É meia-noite e eu acabei agora de nadar, não são os horários mais indicados. Mas sem desculpas, sei que podia ter feito melhor. Acho que neste momento estou a valer mais do que 1m59s, mas daqui tiro várias lições”, reconheceu o nadador português.

De touca cinzenta e calções escuros, Alexis Santos conseguiu uma excelente partida – foi o mais rápido a reagir, cumprindo o segmento de mariposa em 25,65s. A viragem foi feita na sexta posição entre os oito nadadores da meia-final, embora na transição para costas, o seu estilo mais forte, o português tenha conseguido recuperar uma posição. Alexis Santos foi o quarto mais veloz nos segundos 50 metros da prova, subindo para quinto. E conseguiria segurar essa posição até ao final, apesar de perder algumas décimas de segundo durante os bruços.

“Estar na câmara de chamada com o Michael Phelps e estes nadadores todos de topo é diferente de nadar em Portugal. Mas espero que daqui para a frente possa começar a olhar para eles como rivais – embora saiba que nunca vão ser meus rivais directos. Quero aproximar-me deles o mais possível”, apontou. Para isso, algumas coisas terão de mudar, reivindicou: “Mais apoio aos atletas, mais condições de treino. Isso falta em Portugal e eu sinto na pele essa falta de apoios para que em Tóquio as coisas possam ser diferentes e eu possa estar a lutar com estes atletas de topo, cara a cara. Olhar para eles não de baixo para cima, mas olhos nos olhos.”

Na primeira participação em Jogos Olímpicos, aos 24 anos, Alexis Santos regressa a casa com os objectivos plenamente cumpridos: “Os Jogos Olímpicos eram um sonho, passaram a ser um objectivo, e finalmente consegui concretizá-lo e estar aqui a competir com os melhores do mundo. Foi uma estreia de sonho. Duas classificações entre os 16 primeiros, um recorde nacional e dois recordes pessoais. Era aquilo que eu sonhava. Quanto à meia-final... como nadei de manhã a eliminatória dos 200m estilos, sabia que podia fazer melhor e queria fazer melhor. Mas pronto, infelizmente não deu. Para a próxima há-de dar”, frisou. Para além dos 200m estilos, o nadador do Sporting também competiu nos 400m estilos, tendo sido 14.º classificado com recorde nacional.

A estratégia para os próximos anos está definida: “Em Tóquio espero estar a lutar por finais. Esse vai ser o meu objectivo durante estes quatro anos. Vão ser quatro anos bastante importantes, que têm as suas etapas. É preciso começar a ter resultados melhores em Europeus e Mundiais, durante esses quatro anos, para chegar à final. E, aí sim, ser um candidato sério à final, não como aqui. Nunca sequer estive mais ou menos perto de uma final num Mundial, e agora, apesar de ter feito medalha no Europeu recentemente, é preciso mais resultados desses para chegar a Tóquio e ser um verdadeiro candidato.”

Para já, vai ser tempo de repouso. “Agora tenho um tempinho de férias para descansar e depois logo vejo como vai ser. Com 24 anos, provavelmente, nos próximos quatro anos não vou estar só na natação. Tenho de começar a pensar no meu futuro, mas sei que ainda sou novo. Se calhar os quatro anos dedicado a 100% à natação não vai dar.”

Sugerir correcção
Comentar