A vitória da identidade de jogo
Início de jogo com o Sporting a apresentar-se em 4-2-3-1 com Adrien de perfil com o pivô defensivo William, ficando junto ao flanco esquerdo a “surpresa” Matheus Pereira com Bryan Ruiz e João Mário em incessantes trocas posicionais entre o centro e a direita, ficando Slimani mais fixo entre os centrais portistas. O Sporting não atribuiu relevância aos flancos que ficaram entregues ao jovem brasileiro e à subida dos laterais, preferindo uma zona central reforçada com quatro elementos pressionantes. João Mário foi crucial em todos os momentos do jogo (roubava bolas em zonas altas, vadiou entre ala e centro, deu verticalidade em desmarcações atacando o espaço, foi o farol para combinações em tabela e quem melhor “conversou” com Slimani). O seu posicionamento em zonas interiores permitiu superioridade no miolo (foi o tal 4.º elemento), dando confiança aos restantes companheiros de sector para subir o bloco pressionante (quase a totalidade das segundas bolas foram ganhas).
No 4-3-3 do FC Porto Rúben Neves actuou junto de Danilo, num duplo pivô com Herrera mais adiantado. Corona (procurando diagonais) e Brahimi (pedindo bola no pé) actuaram como extremos puros, tendo uma preocupação defensiva pronunciada, a de estancar a subida dos laterias do Sporting (principalmente os cruzamentos de Jefferson). A pressão de Herrera para junto de William não teve acompanhamento devido dos restantes elementos de sector (duas linhas muito afastadas). Maxi (muito bem nas saídas para o ataque) personificou a superioridade portista pelos flancos e a intenção do técnico basco em apostar preferencialmente pelo jogo exterior ofensivo. A posição subida dos médios do Sporting condicionou a saída de bola do FC Porto pelos defesas (nunca conseguiram articular ligações com nenhum dos médios mais recuados, que também não se conseguiram libertar para a 1.ª fase de construção). Por esse facto, o FC Porto optava pelo passe longo na frente, procurando imediatamente a velocidade dos extremos e o espaço nas costas da defesa contrária. A estas movimentações juntam-se as projecções dos laterais e as desmarcações de Herrera e Aboubakar em cima dos centrais.
O FC Porto entra no segundo tempo sem conseguir solucionar a falta de conexão entre sectores. Com a saída de Rúben Neves e a entrada de André André, conseguiu subir as suas linhas e definir uma zona de pressão mais subida, ganhando bolas divididas em zonas altas. No entanto, quando esse bloco era suplantado, a equipa ficava exposta e o Sporting com muito espaço para o contra golpe. Brahimi foi uma desilusão (perdeu-se inúmeras vezes no momento de definição (passe/remate). Foi na sequência de uma péssima decisão sua que o Sporting matou o jogo através de um exímio contra-ataque.
O FC Porto perdeu o jogo pela já recorrente falta de eficácia dos seus avançados (veja-se as constantes perdidas de Aboubakar quando isolado) e pela falta de constância táctica (alterações sucessivas de um jogo para o outro são inviabilizadoras da construção de uma necessária identidade de jogo). O Sporting de Jesus é incontestavelmente a melhor equipa do campeonato, apresentando uma versatilidade inegável (é notável a forma como consegue, no mesmo jogo, diversificar tanto as suas dinâmicas e laborar, com a mesma qualidade de jogo, em sistemas distintos).
Analista de futebol