Simone Manuel tornou-se esta quinta-feira na primeira afro-americana a sagrar-se campeã olímpica de natação. E numa altura em que as questões raciais são um dos assuntos mais sensíveis nos EUA, a jovem não teve receio em atribuir um significado extra-desportivo à sua vitória.

“Significa muito, especialmente com o que se está a passar hoje no mundo, [com] as questões sobre a brutalidade policial”, disse Manuel, pouco depois da vitória. “Espero que esta vitória traga esperança e mudança a alguns dos problemas que têm acontecido. A minha cor vem apenas com o território”, concluiu, citada pelo Guardian.

Nos últimos meses, têm sido vários os casos de brutalidade policial contra negros nos EUA e que motivaram um grande debate sobre o racismo na sociedade norte-americana.

A vitória da norte-americana de 20 anos na final dos 100 metros livres foi histórica por outro motivo. No lugar mais alto do pódio Manuel teve a seu lado a canadiana Penny Oleksiak, que terminou a prova exactamente ao mesmo tempo, com um novo recorde olímpico. Para trás ficou a australiana Cate Campbell, detentora da melhor marca mundial. Com 16 anos, Oleksiak pode orgulhar-se de ter tornado na primeira campeã olímpica nascida no século XXI.

Manuel negou que a partilha da medalha de ouro tenha tirado sabor à vitória e descreveu a adversária canadiana como uma “óptima miúda”. “Só a conheci agora e duas miúdas jovens a competir, acho que é bom para o desporto e acaba com os estereótipos em relação às corridas de velocidade”, disse Simone.

Quando tinha quatro anos, Simone pediu à mãe para a inscrever numa equipa de natação, depois de ver os dois irmãos mais velhos em competição. “Inscrevemo-la em aulas de natação nesse mesmo Verão e, no segundo dia de aulas, o instrutor já a tinha posto a nadar de um lado ao outro da piscina”, contou a mãe, Sharron Manuel, numa entrevista ao site SwimSwam.

Na hora da vitória, a nadadora não esqueceu outra Simone — negra, norte-americana e campeã olímpica. Poucas horas antes, Simone Biles alcançava o ouro no concurso geral individual de ginástica. “Simone Biles e eu somos quase a mesma pessoa”, contou Manuel, acrescentando que se conheceram há um ano e são hoje boas amigas. “Estou muito satisfeita com os resultados dela e nós as duas vamos levar as medalhas para Houston.”