A editora lisboeta Príncipe Discos, que tem dado a conhecer alguma da mais estimulante música portuguesa dos últimos anos, promete um 2015 ainda mais dinâmico. No último mês deu a conhecer três novos EPs (para além dos aqui abordados, foi também editado Malucos de Raiz dos C.D.M., ou seja Lilocox & Maboku) e em Abril a histórica editora inglesa Warp irá lançar o EP Cargaa 1 contendo temas de DJ Marfox, Nigga Fox, Ly-Coox (Tia Maria Produções) e Blacksea Não Maya.
Para além de DJ Marfox, a figura da editora que tem um percurso mais consolidado, principalmente na Europa, é Rogério Brandão, ou seja Nigga Fox, que se deu a conhecer em 2012 através de uma excelente mixtape e um ano depois com o EP O Meu Estilo. Regressa agora aos discos com mais quatro temas de onde se destaca Um ano, mais uma viagem física, construída com grande engenho pelos meandros de uma sonoridade minimalista e polirrítmica próxima do house.
A inspiração provém das mais diversas famílias estéticas (afrohouse, batida, tarraxinha ou kuduro), que apenas ouvidos mais experimentados se preocupam em decifrar. O que surpreende em Nigga Fox, e na maioria da música editada pela Príncipe, é a vitalidade que emana das suas edificações rítmicas, a forma como diferentes climas coabitam na mesma faixa (da excitação à melancolia, da noite para o dia) e as variações contranatura que ocorrem no percurso, com quebras seguidas de acelerações rítmicas. Numa altura em que tanto se proclama que a pop não faz mais do que digerir o seu passado, eis uma série de músicos com saudável desrespeito pela história, a mostrarem que não tem de ser assim.
O mesmo se pode dizer de Nídia Minaj, de apenas 18 anos, actualmente a residir em Bordéus, mas que cresceu no Vale da Amoreira. O EP de oito temas de curta duração agora editado constituiu mais uma prova de que é possível pegar em linguagens electrónicas consolidadas e introduzir-lhe dinamismos e transmutações inesperadas.
Mais do que os acabamentos o que conta aqui é o esqueleto rítmico inusitado, a procura de novos ângulos e a fuga de tudo o que é formatado, numa música com qualquer coisa de neurótico e obsessivo. É música que tanto serve para fortalecer o físico à noite, como para activar neurónios durante o dia.
Alguns temas revelam uma estrutura complexa, mas o que prevalece é a espontaneidade do gesto. Dir-se-ia que Nídia faz música como quem junta peças de lego, sem rígidos cuidados formais, às vezes parecendo indecifrável, mas deixando-se ir, e nesse movimento acabando por resultar numa música simples, apenas sua, partilhada generosamente de forma inteligível.