Arte e upcycling: a nova vida de peças automóveis pelas mãos da Oficina Marques

Na era da sustentabilidade, a Oficina Marques e a Renault transformaram o desperdício automóvel em arte. Correias, discos de embraiagem e restos de pára-brisas formam agora um painel.

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A dupla de artistas costuma trabalhar com madeira e cerâmica para criar os seus painéis Daniel Rocha
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A Renault desafiou a Oficina Marques — José Aparício Gonçalves e Gezo Marques — a criarem uma obra de arte a partir de materiais da indústria automóvel, com o propósito de lhes dar uma nova vida através do processo de upcycling. Isto é, a transformação de materiais que seriam descartados, reaproveitando-os para uma nova utilidade. Neste caso, de um carro para um painel, que foi revelado nesta última semana.

Primeiro, é importante não confundir upcycling com reciclagem. Apesar de terem valores em comum, no segundo processo degradam-se os materiais, enquanto no outro são usados tal como se encontram. Aplica-se a tudo e, por exemplo, pode também estar associado à moda. “Durante o upcycling, não se esquece o que era antes aquele material. O objectivo é dar-lhe uma nova vida, com a vida e as histórias que já tinham”, esclarece José Aparício Gonçalves à Fugas.

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Os artistas da Oficina Marques e a Renault apresentaram o resultado final nesta quarta-feira DR

A dupla de artistas viu no upcycling e no convite da Renault uma oportunidade para contar uma história — uma que ficaram a conhecer depois de visitar os concessionários do grupo automóvel, explorar o desperdício das peças e escolher aquelas que queriam incluir na obra e na mensagem a transmitir ao público. “Quando chegámos às oficinas, começámos a ver estes materiais que já tinham viajado muito nas mãos de outras pessoas, mas mantinham uma história”, continua.

Ao olhar para a obra final, há um aspecto que se destaca — o círculo. E os artistas confirmam. É que, durante o processo de selecção, aperceberam-se de que este elemento surgia várias vezes e, por isso, quiseram contar a história a partir daí.

Entre pastilhas de travões, discos de embraiagem, juntas, correias, cabos, carregadores e restos de pára-brisas, Gezo e José decidiram transmitir ao público que “somos todos um ponto de uma engrenagem, que é o Universo, pontos que estão ligados e constroem uma constelação”, explicam. E deixam para reflexão: “Enquanto peça que faz tudo funcionar, qual é a nossa pegada na vida dos outros, na vida do planeta?”

Durante a criação desta peça surgiram desafios, como o peso e o tipo de material. “Há peças de carro muito pesadas e seria muito complicado colocá-las num painel de parede”, salvaguarda Gezo Marques. Além disso, não são materiais maleáveis, aqueles a que a dupla está habituada. “Quando trabalhamos barro e madeira, conseguimos esculpir, moldar. Aqui, nós é que tivemos que nos moldar aos materiais”, admite.

Combinadas com tons de roxo, azul, rosa e branco, as peças agora pintadas mantêm, na sua maioria, as formas originais. “Nós não derretemos o ferro para transformar noutra coisa. Como veio da outra vida, como parte de um automóvel, passou para o painel”, sublinha. Quando se olha para o painel e para cada peça, os artistas dizem que é suposto “continuar a reconhecer aquilo que ela era”, no caso um componente do Renault Scenic E-Tech, um automóvel “100% eléctrico, feito com 24% de materiais reciclados e 90% reciclável”, destaca a marca. Esse foi o mote e inspiração para este projecto de upcycling, onde quisemos comprovar que a vida de um objecto não termina em si própria e que pode sempre originar algo de maior valor.”

A peça de arte final será leiloada, com o valor a reverter para uma instituição apoiada pela Renault.


Texto editado por Carla B. Ribeiro

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