Foram 55 anos ao serviço do Manchester United. Mas não foi tanto o tempo que dedicou, mas antes a forma como se empenhou para que todos se sentissem bem acolhidos que acabou por determinar a sua importância para o clube. O seu funeral, no último fim-de-semana, um mês após a sua morte, reuniu nomes fortes do futebol inglês, que não se acanharam nos elogios.
Kath Phipps morreu no início de Dezembro, aos 85 anos. E mesmo nos últimos dias, já no hospital, recordou sir Alex Ferguson, o antigo mister dos Diabos Vermelhos, que marcou mais do que uma geração ao serviço do Manchester United (afinal foram 27 anos), a antiga recepcionista manteve o espírito alegre, sempre rodeada de amigos, que, relatou com graça, até um Bacardi e uma Coca-Cola conseguiram contrabandear só para a verem sorrir. "Ela estava feliz, satisfeita, com toda a gente que amava à sua volta", recordou Ferguson durante o elogio fúnebre.
A postura acolhedora de Kath marcou a chegada de Ferguson a Old Trafford, tendo sido ela quem se ofereceu, em 1986, para apoiar a mulher do treinador quando esta estava internada, passando as suas folgas ao lado da cama de hospital de Kathy Ferguson — mesmo não a conhecendo antes.
Também a chegada de David Beckham acabaria por ficar marcada pela humanidade de Kath. O médio, que fez magia com o seu pé direito e que raramente falhava uma bola parada, chegou ao clube com apenas 15 anos. E foi Kath que sossegou os anseios dos seus pais, Ted e Sandra. "Mudei-me para Manchester aos 15 anos e Kath prometeu aos meus pais: ‘Eu tomo conta do vosso filho, não se preocupem’, e, desde o primeiro até ao último dia que passei com ela, foi exactamente isso que ela fez ❤️", escreveu Beckham no Instagram, num texto em que descreveu Kath como “o coração do Manchester United”: “Toda a gente sabia quem era a Kath e toda a gente a adorava."
Consta que era também Kath que escrutinava a interminável correspondência das fãs de David Beckham — e deitava fora as cartas mais atrevidas. E era a ela que Cristiano Ronaldo servia um chá quando chegava pela manhã. “Ela adorava-o”, confidenciou, numa entrevista, a apresentadora da Sky Sports Hayley McQueen.
Kath Phipps começou a trabalhar no United logo após a vitória na final da Taça dos Campeões Europeus em 1968 e apenas se afastou em 2023, após mais de 55 anos. “A primeira e última cara que via sempre era a de Kath, sentada na recepção de Old Trafford”, escreveu Beckham, concluindo: "Old Trafford nunca mais será o mesmo sem o teu sorriso quando entrarmos por aquelas portas..." Uma opinião partilhada pelo clube inglês, que prestou homenagem à antiga funcionária, cuja contribuição, declara, “foi além de qualquer cargo específico”.
No texto do Manchester United dedicado a Kath, lê-se que ela assegurava que qualquer visitante "era recebido com as mais alegres boas-vindas", sendo que “para os frequentadores habituais, essa saudação estendia-se a abraços calorosos e conversas amigáveis, uma vez que Kath encarnava a atmosfera familiar subjacente à cultura do clube".
Além do mais, destaca-se, “se Kath tivesse um mau dia, nunca o trazia para o trabalho; a sua atitude positiva ajudava a criar o ambiente para todos os que entravam no campo de treinos, sempre pronta a dar ouvidos e a oferecer palavras de encorajamento a quem precisasse”.
Mas também pôde contar com todos quando mais precisou. Quando o marido de Phipps, Richard, morreu, Ferguson “levou o seu plantel ao funeral para prestar homenagem e solidarizar-se com Kath durante o seu luto”. E, durante a pandemia de covid-19, foram muitos os jogadores que a visitaram “para garantir que ela tinha companhia”.
No funeral, escreve o clube, foi possível perceber a grande família que Kath tinha no clube, entre antigos jogadores, como David Beckham, Roy Keane e Nicky Butt, mas também o actual técnico, o português Rúben Amorim, assim como o plantel da equipa principal.