A Shein recusa-se a confirmar se utiliza algodão de proveniência chinesa nas suas peças. Em resposta a um apelo do Parlamento britânico, depois de a marca ter iniciado o processo de cotação para a bolsa de Londres, a advogada da empresa, Yinan Zhu, confirmou apenas que a plataforma fabrica parte dos seus produtos na China, mas diz não saber esclarecer se o algodão é proveniente da região de Xinjiang, onde é conhecido o recurso a trabalho forçado da minoria uigure.
Em resposta, citam a BBC e o The Guardian, os deputados responsáveis pelo comité dos Negócios e do Comércio do Parlamento britânico acusaram a Shein de “ignorância voluntária”. Yinan Zhu, que é a advogada da Shein na Europa, insistiu que não tem qualificações para responder se a fabricante de ultra fast-fashion recorre ou não ao algodão chinês.
Como justificação, a representante diz que a Shein não é proprietária de qualquer uma das fábricas a que recorre, porque as subcontrata — é esse um dos argumentos que justifica a rapidez de produção, que permite colocar cerca de seis mil novas peças de vestuário no site diariamente — e desconhece se estas recorrem ao algodão de Xinjiang.
O governo britânico apresentou à empresa um dossier que revela a investigação feita na China pelo grupo britânico Stop Uyghur Genocide (Fim ao genocídio uigure, em tradução livre), que revela os maus tratos e trabalhos forçados infligidos à minoria muçulmana uigure. Em resposta, a advogada lembrou que não há uma relação directa com a Shein, que, apesar de ter sido fundada na China em 2008, está actualmente sediada em Singapura.
O plano da Shein é entrar na bolsa de Londres ainda neste ano com uma avaliação de 50 mil milhões de libras (60 mil milhões de euros). Yinan Zhu mostrou-se confiante que a empresa será capaz de cumprir todas as leis britânicas, incluindo a que se refere à escravatura moderna que esteve em análise nesta terça-feira. E reiterou que a Shein já conduziu “milhares de auditorias” e que nos fornecedores onde encontraram trabalho forçado a colaboração tinha “terminado imediatamente”.
O deputado Charlie Maynard lembrou que tinham sido feitas “questões muito simples” e que a advogada tinha sido incapaz de dar qualquer “resposta directa”. O responsável pelo comité, Liam Byrne, também lamentou: “Para uma empresa que pretende cotar-se na Bolsa de Londres, o comité ficou bastante horrorizado com a falta de provas.” Como tal, declarou que o governo fica com “confiança zero” na Shein.
A Temu, a grande rival da Shein, foi submetida a um inquérito semelhante. Stephen Heary, porta-voz da empresa, disse que o marketplace “tomou em consideração as reacções dos consumidores” e decidiu proibir vendas de quaisquer revendedores de Xinjiang. Contudo, também não responde sobre o uso de algodão daquela região.
A Shein e a Temu têm estado envolvidas em polémicas relacionadas com direitos humanos, além de problemas com propriedade intelectual de designers ou as questões ambientais levantadas pela ultra fast-fashion. No início desta semana foi também dado a conhecer um novo relatório da Transparentem, uma associação norte-americana sem fins lucrativos dedicada aos direitos humanos, que investigou alguns dos maiores fabricantes de vestuário da Índia e apurou que o algodão orgânico utilizado para empresas como a Inditex, a H&M ou a Gap recorre a mão-de-obra infantil.