O gaslighting pode contaminar os almoços de domingo. Eis como identificar e evitar

O gaslighting é uma forma insidiosa, por vezes dissimulada, de abuso emocional. Esta manipulação psicológica pode transformar um jantar num campo de batalha de emoções. Eis como lidar.

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Gaslighting: o que é? Getty Images
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Como é que posso desfrutar da minha família quando eles muitas vezes ignoram os meus sentimentos e até questionam as minhas memórias?

As reuniões familiares podem ser repletas de riso, amor e uma generosa dose de comida reconfortante. Mas, como um antigo paciente experienciou, por vezes podem ser contaminadas com algo menos positivo: gaslighting.

O gaslighting é uma forma insidiosa, por vezes dissimulada, de abuso emocional. Repetido ao longo do tempo, pode levar alguém a questionar as suas percepções, memórias e até a sua realidade. Quando feito pela família, pode ser especialmente doloroso. Porque é que as pessoas que nos amam tentam minar a nossa confiança ou carácter? As razões subjacentes variam — e podem vir acompanhadas de amor, lutas de poder ou questões não resolvidas.

O gaslighting na família pode ser disfarçado com mensagens amorosas e carinhosas que parecem demonstrar calor e interesse. A tua tia pode perguntar-te: "Já encontraste aquela pessoa especial? Sabes, podias falar com um profissional sobre namoros", deixando-te inseguro e com dúvidas sobre ti próprio.

Também pode ser abertamente agressivo e intimidante. Por exemplo, o teu pai pode dizer: "Pára de fingir que não sabes o desastre que foram as tuas escolhas de vida. Quantas vezes precisas de ser lembrado de todos os erros que cometeste?"

O que provoca o gaslighting

Antes de deixares que esta manipulação psicológica transforme um almoço de domingo num campo de batalha de emoções, pára para pensar nos possíveis gatilhos que podem fazer emergir o gaslighting na tua família.

Nas famílias, há, muitas vezes, anos — se não décadas de contexto que moldam a dinâmica interpessoal, e há situações específicas que expõem mais os comportamentos de gaslighting do que outras.

  • Os desacordos tendem a trazer à tona a certeza e a necessidade de superioridade de um gaslighter. Insistem que a sua realidade é a forma como o mundo funciona, a forma como as pessoas se devem comportar e a forma como se deve pensar e sentir.
  • As desilusões também podem levar os gaslighters a usar a culpa ou a vergonha para controlar o teu comportamento ou as tuas escolhas. Eles desviam a responsabilidade "Se não tivesses feito X, eu não teria reagido assim" e criam um desequilíbrio emocional porque é mais fácil culpar-te do que assumir a responsabilidade pelas suas próprias acções.
  • Nas famílias com hierarquias estabelecidas, alguns membros podem recorrer ao gaslighting para recuperar o controlo quando se sentem ansiosos ou ameaçados.
  • Factores culturais, como a lealdade à família, também podem fazer emergir estes comportamentos. Um gaslighter pode recorrer à manipulação para fazer cumprir as expectativas familiares.

Embora não possas controlar a forma como os outros aparecem nos almoços, podes controlar a tua reacção. Faz um balanço do contexto e dos factores antes de te apressares a responder em conversas polémicas com um gaslighter.

Está presente, ouve e sê gracioso, mas dá-te também permissão para mudar as conversas conforme necessário. Ao fazê-lo, podes centrar melhor a curiosidade e a compaixão por ti e pelas outras testemunhas na forma como escolhes responder ou não responder.

Como combater o gaslighting

Ser proactivo

  • Pensa no elenco de pessoas antes de participar num convívio. Identifica possíveis interacções ou tópicos de conversa que possam surgir e limita o teu contacto com as pessoas que podem promover interacções negativas.
  • Pensa com antecedência sobre com quem queres passar o tempo. Não tens de interagir com aqueles que o activam. Um simples "prazer em ver-te" pode ser suficiente.
  • Identifica as suas estratégias de eleição. Pensa no teu melhor enquanto imaginas como vais gerir os momentos difíceis. Lembra-te de que podes sempre optar por não participar no gaslighting ou numa conversa combativa.
  • Aceita que podes ter de te sentir confortável com o facto de te sentires desconfortável. Algumas interacções podem fazer com que te sintas desmotivado e desestabilizado no momento ou mais.

Adapta-te ao momento

  • No momento, chama o teu melhor eu e dá um ar de graça e compreensão.
  • Se as coisas aquecerem ou ficarem demasiado emotivas, muda a conversa para um território mais neutro.
  • Se alguém activar um complexo de culpa em ti, lembra-te de que o comportamento dessa pessoa é problema dela, não teu.
  • Lembra-te de que não há problema em terminar a conversa, mudar de assunto ou ir embora se estiveres a entrar num vórtice de gaslighting.
  • Se sentires que não podes optar por não participar, tenta conduzir a conversa. Sê curioso sobre o teu possível gaslighter.

Reflectir e aprender

  • Depois disso, reserva algum tempo para reflectir sobre como correu o dia. O antigo paciente que tinha perguntado como aproveitar as férias com a família devido ao gaslighting descobriu que o planeamento contribuiu para uma experiência melhor do que esperava.
  • Se certas estratégias ou tácticas se revelaram particularmente úteis para ti, então essas percepções podem servir como lições valiosas a aplicar em futuras interacções familiares.
  • O gaslighting pode ofuscar o calor e a alegria das reuniões familiares, mas, com consciência e esforço, podemos cultivar interacções saudáveis e evitar as que não são saudáveis. Podemos abordar esta época festiva com gratidão pela oportunidade de investir e nutrir as relações.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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