Festa de S. Gonçalinho de Aveiro volta como património nacional e com um documentário

Tradição volta a cumprir-se no Bairro da Beira-Mar, de 9 a 13 de Janeiro. Festividades foram recentemente inscritas no inventário do Património Nacional Cultural Imaterial.

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A Festade de São Gonçalinho, em Aveiro, arranca a 9 de Janeiro Adriano Miranda/Arquivo
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Se há coisa que salta à vista a quem tem a oportunidade de conhecer a tradicional Festa de São Gonçalinho por dentro é a “devoção e o carinho” que as gentes do bairro da Beira-Mar, em Aveiro, têm pelo seu padroeiro. Mais do que as cavacas que voam do alto da capela durante os cinco dias de festividade, para gáudio de milhares de visitantes e devotos, o que parece marcar a diferença são expressões como “Ó meu rico São Gonçalinho”, ditas vezes sem conta. Que o diga Rita Ricardo, autora de um documentário sobre as mordomas de São Gonçalinho, mulheres que desempenham um papel fundamental no contexto da festa religiosa que acaba de ser aprovada para integrar o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. “O que as move é a devoção ao santo e a ligação ao bairro”, repara Rita Ricardo em declarações ao PÚBLICO, a poucos dias de voltar a apresentar à cidade um excerto do documentário que produziu – a versão integral tem 57 minutos e ainda não tem data prevista de exibição.

O trabalho já foi produzido em 2021, no âmbito do Mestrado em Comunicação Multimédia da Universidade de Aveiro, mas permite dar a conhecer uma realidade menos conhecida da tradição à volta do santo. “Toda a gente conhece a parte dos mordomos, a quem cabe a organização da festa. O trabalho destas mulheres, a quem cabe zelar pela capela e enfeitar os andores, é menos conhecido”, explica Rita Ricardo, que teve a oportunidade de privar com elas durante vários dias. “O mais extraordinário é que elas não procuram reconhecimento. Fazem isto porque gostam, pela devoção ou porque as mães também já eram mordomas”, acrescenta a autora do documentário “Ó meu rico São Gonçalinho” e que irá marcar presença, esta quarta-feira, dia 8 de Janeiro, nas Conversas de S. Gonçalinho (18h00, no Mercado José Estêvão).

A festa arranca no dia seguinte, quinta-feira, como manda a tradição, embalada pela boa nova que chegou nas últimas semanas de 2024. No seguimento da iniciativa da Câmara Municipal de Aveiro de apresentar a proposta de inscrição da festa no Inventário Nacional do Património Cultural, o Instituto Público Património Cultural comunicou formalmente à autarquia, a 17 de Dezembro, a aprovação da referida proposta. Uma decisão que coloca a Festa de São Gonçalinho no grupo de tradições protegidas a nível nacional, ajudando a preservar uma tradição que faz parte da identidade de Aveiro.

Música, pirotecnia e cavacas

É assim de esperar que, nesta edição de 2025, a festa seja rija, à semelhança das cavacas que serão atiradas da capela ao longo dos cinco dias de festejos. O cartaz de concertos contempla nomes grandes da música nacional, como é o caso de Tony Carreira, Quim Barreiros e HMB, e o programa não abdica dos habituais espectáculos de fogo-de-artifício, DJ´s, tunas académicas e animação para os mais novos.

Manda a tradição que a quinta-feira seja dia de festa académica e, este ano, não será excepção. Na noite de 9 de Janeiro, o palco estará por conta das duas tunas da Universidade de Aveiro (feminina e masculina). No dia seguinte, sexta-feira, 10 de Janeiro (dia do santo), há animação dedicada à população sénior, durante a tarde, e à noite, actuam os HMB e Moullinex.

O programa de sábado ficará marcado pelo concerto de Tony Carreira, seguido de um espectáculo pirotécnico e da actuação dos DJs Zé Gabriel e André Neto. No domingo, há concerto de tributo a Tina Turner, e, na segunda-feira, para fechar a festa deste ano, o palco da tenda instalada no Largo do Rossio estará por conta do cantor Quim Barreiros.

Este ano, segundo já foi anunciado pela mordomia, os visitantes podem contar com uma tenda de maiores dimensões – mais 300 metros quadrados do que no ano passado –, estimando-se que o número de cavacas lançado do alto da capela também supere os registos de 2024 - só a mordomia vendeu 6,5 toneladas.

A par com as cavacas, lançadas em cumprimento de promessas, a Festa de São Gonçalinho é ainda marcada por outros rituais únicos, como é o caso da Dança dos Mancos, um ritual pagão rodeado de algum secretismo, e dos brindes com Licor de Alguidar, bebida artesanal produzida no próprio bairro.

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