Palcos da semana: Caminhos Cruzados com Transformação, tragédias e sátira

A vinda de Hécuba, Não Hécuba de Tiago Rodrigues, um festival de diversidade na Casa da Música, dança contemporânea em Viseu, teatro de Sarraute e o “doutor direita” marcam os próximos dias.

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Estreado em Avignon, Hécuba, Não Hécuba chega agora a Portugal Christophe Raynaud de Lage / Comédie Francaise - Festival d'Avignon
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Mahan Esfahani vai ao Porto dirigir um concerto do ciclo Caminhos Cruzados Kaja Smith
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Re.Set - A Metaphor For My Queer Emancipation inaugura o 13º NANT - New Age, New Time Tatiana Saavedra
Carla Bolito
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Tudo a Que Se Chama Nada, a nova peça encenada por Carla Bolito EGEAC - Teatro São Luiz/Pedro Rosário Nunes
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O Jovem Conservador de Direita visita 11 cidades com o novo espectáculo DR
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Tragédia(s) de palco e tribunal

O Festival d’Avignon foi o primeiro a ver, em Junho de 2024, a abordagem de Tiago Rodrigues, o seu director, à Hécuba de Eurípides. Agora, é a vez de Lisboa se confrontar com ela.

Às mãos do encenador e dramaturgo português, há elos e tensões entre as histórias de duas mulheres em dois tempos: a troiana do mito clássico, que perdeu tudo e todos, e Nadia, a actriz do presente que ensaia esse papel, ao mesmo tempo que vai correndo para o tribunal onde se julgam os responsáveis pelos abusos sofridos pelo filho autista.

Esbatem-se os véus que separam os contextos das duas. Fundem-se questões e dores comuns: perda, sede de justiça, coração de mãe atormentado. O resultado é “um entrelaçamento perturbado e perturbador entre a tragédia do mito e a da realidade, entre os meandros do teatro e os da justiça”, adianta a folha de sala.

Hécuba, Não Hécuba vem a Portugal ao embalo de uma digressão europeia que terminará, em Maio/Junho, na casa da Comédie-Française, a companhia parisiense com quem Rodrigues colabora pela primeira vez neste espectáculo.

Cruzamento e boémia

A Casa da Música entra na nova temporada com Caminhos Cruzados, um ciclo de seis concertos pautado por “tempos diferentes, geografias variadas, paixões e religiões múltiplas”.

A Orquestra Sinfónica da casa lança-se a um programa de Cruzamentos Ibéricos e a outro que mistura a estreia nacional de uma peça de Liza Lim (compositora em residência em 2025) com música de Saint-Saëns, Zimmermann, Gershwin e outros. A Barroca atira-se a um Triplo de Bach dirigido pelo maestro e cravista Mahan Esfahani.

O Remix Ensemble estreia uma peça de Lim e outra de Steve Reich, enquanto o Coro Casa da Música envereda por “percurso errante” que transita “do romantismo germânico ao rock progressivo”, com passagem pela Bohemian rhapsody dos Queen. E, no serviço educativo, o Dr. Qwrtzfgtlvskh ainda explica Como Anoitecer Um Pirilampo.

Movimento transformador

Fluidez, renascimento e identidade são conceitos caros a Re.Set - A Metaphor For My Queer Emancipation, o espectáculo autobiográfico que Be Dias leva à abertura da mostra de dança contemporânea NANT - New Age, New Time.

Sinaliza desde logo o “grito de Transformação” que atravessa esta 13.ª edição. E é uma das estreias absolutas em cartaz, a par de Durarei por Paz e Nunca por Mal, em que Mélanie Ferreira e Daniel Matos se detêm sobre ideias de espaço, espera e partilha.

A Ausência da Minha Presença jogada por Bruna Carvalho, os sacos poéticos de L’Après Midi d’Un Foehn Version 1 da Compagnie Non Nova e o valor das coisas pensado por Ana Isabel Castro em Pechisbeque completam o lote de espectáculos – todos co-produções do Teatro Viriato.

Fora do palco, estão previstas a apresentação do livro Linhas de Tensão. Arte, Dança e Ecologia, de Daniel Tércio (que também orienta uma oficina), a exposição Corpo Gráfico, de Teresa Vale, e a projecção do filme Emilia Pérez, de Jacques Audiard.

A linguagem do tudo ou nada

Foi no teatro de Nathalie Sarraute (1900-1999) – escritora francesa nascida na Rússia como Natacha Tcherniak, tornada figura de proa do movimento nouveau roman – que Carla Bolito mergulhou para encenar Tudo a Que Se Chama Nada, a peça que se prepara para estrear, com Álvaro Correia, Anabela Brígida, João Cabral e Marcello Urgeghe no elenco.

Trata-se, mais concretamente, de uma adaptação que junta duas peças, Por Tudo e por Nada e Aqui Está Ela, exemplares da primazia que Sarraute dava à linguagem e, como refere Bolito, à “espiral obsessiva na busca dos possíveis significantes e significados das palavras”.

Em cada esquina um… Salazar?

Era uma vez um Jovem Conservador de Direita nascido para aplicar a lupa crítica e satírica a trejeitos desse campo político (que supostamente é o seu), fazendo sempre questão de tratar e ser tratado por doutor. Ele e o inseparável Estagiário. Nesses tempos, ainda Portugal era visto na Europa como um oásis sem radicais em ascensão.

Entretanto, o hemiciclo ultrapassou a ficção. Farão ainda sentido as lições do doutor criado por Bruno Henriques e Sérgio Duarte? Sim, desde que a ironia se afine ainda mais (a ponto de confundir os próprios caricaturados) e que a doutrina vá ao ponto de reclamar, de utensílio de cozinha em punho, Em Cada Esquina Um Salazar – assim o slogan lhe sirva a ambição política.

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