Mudar a cor dos olhos com uma cirurgia é arriscado. Eles fizeram-no na mesma

Não querem uma mudança temporária com lentes de contacto: procuraram opções permanentes para a cor dos olhos dos seus sonhos e gastaram milhares de euros. Oftalmologistas alertam para os riscos.

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Eles mudaram a cor dos olhos sem lentes de contacto Cameron Briggs/ Rotem Barak
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Cameron Briggs, de Essex, Inglaterra, confessa que a maioria das suas decisões são impulsivas, e a escolha de mudar parcialmente a cor dos olhos não foi diferente.

Dois dias antes de marcar uma viagem em Março a Nice, França, para se encontrar com um oftalmologista, adoptou um cachorrinho, Baby Bear.

O investidor em criptomoedas pensou que combinar a cor dos seus olhos com os de Baby Bear os tornaria “tal pai, tal filho”.

Apesar de agora recomendar a cirurgia de queratopigmentação a todos que conhece, Briggs disse que teve dores durante 48 horas após o procedimento que tornou metade de um dos seus olhos cinzento-azulado para ficar igual ao do cão que adoptou. No voo para casa, disse, sentiu-se como se estivesse “prestes a explodir” com a pressão.

“Foi horrível. Senti-me mal”, disse, alguns meses mais tarde. “Mas, no fim de contas, é um procedimento. O que é que eu esperava?”

Briggs, 22 anos, e outros como ele não querem apenas uma mudança temporária com lentes de contacto. Procuraram opções permanentes para a cor dos olhos dos seus sonhos e gastaram milhares de euros para eliminar a maior insegurança.

Os avanços na cirurgia estética permitem que as pessoas mudem permanentemente a cor dos olhos, usando lasers, implantes ou tinta. Os vídeos com os resultados de alguns pacientes têm milhões de visualizações nas redes sociais. Embora a segurança das cirurgias seja frequentemente posta em causa, os médicos que fazem o procedimento dizem que já operaram milhares de pessoas.

Briggs disse que estava nervoso com os riscos, mas operar apenas um olho acalmou-o.

O jovem inglês pretendia manter o seu novo visual discreto, mas um vídeo da cirurgia tornou-se viral, acumulando quase seis milhões de visualizações desde que foi publicado em Abril. Os amigos e familiares começaram imediatamente a enviar-lhe o vídeo em choque, perguntando-lhe se os resultados eram reais.

“Sim, é real”, disse-lhes.

Quais são os riscos?

Existem três formas comuns de alterar permanentemente a cor dos olhos: implantes de íris, queratopigmentação e despigmentação a laser. Todas as três cirurgias alteram a aparência da parte colorida do olho conhecida como íris. A queratopigmentação utiliza um laser para criar um túnel na córnea que é preenchido com tinta colorida, bloqueando a íris. A despigmentação a laser, tal como o nome indica, utiliza um laser para revelar um pigmento mais claro que se encontra naturalmente sob a camada superficial mais escura da íris. É necessária uma incisão para inserir um implante da íris, uma folha fina de silicone, entre a esclerótica e a córnea para bloquear a íris.

No centro oftalmológico Kerato New York de Alexander Movshovich, pelo menos 90% dos clientes têm olhos castanhos naturalmente escuros. Das mais de 900 pessoas que operou, cerca de 60% eram hispânicas ou negras, de acordo com dados que partilhou com o The Washington Post, em Agosto.

Os oftalmologistas europeus realizam estes procedimentos há cerca de 15 anos, e alguns nos Estados Unidos adoptaram recentemente um destes métodos. Os médicos que falaram com o The Post disseram que realizaram cirurgias de queratopigmentação em milhares de pessoas nos últimos anos. Mas a grande comunidade de oftalmologistas tem preocupações.

A Academia Americana de Oftalmologia (AAO) lançou um alerta contra os implantes de íris e a queratopigmentação, de acordo com um comunicado de imprensa. Segundo a AAO, estes métodos permanentes podem impor efeitos secundários graves, como a redução da visão ou cegueira, sensibilidade à luz ou cataratas.

Christopher Starr, porta-voz da AAO e professor da Weill Cornell Medicine, disse ao The Post que a despigmentação a laser também pode causar glaucoma, uveíte e perda de visão.

“Esperemos que a maioria dos doentes fique satisfeita com o método das lentes de contacto para este efeito”, afirmou Starr. “Os pacientes que consideram a cirurgia de cor dos olhos devem procurar várias opiniões oftalmológicas antes de prosseguir com a cirurgia.”

Influência das redes sociais

Alahya James, de Waterbury, Connecticut, disse que se sentia incomodada quando as pessoas viam os seus olhos castanhos-escuros naturais. Durante anos, usou lentes de contacto verdes, uma rotina diária que se tornou entediante.

A cabeleireira dava por si a recear ter tempo para colocar as lentes de contacto antes de sair. Esquecia-se sempre de tirar as lentes antes de se deitar, o que pode provocar uma infecção.

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Alahya James
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Alahya James

James sabia desde pequena que um dia iria mudar permanentemente a cor dos seus olhos. Considerou o centro oftalmológico Kerato de Nova Iorque, que cobra cerca de 12 mil euros pela cirurgia, mas a Clínica Lamartine em Paris ofereceu-a por sete mil euros.

James, 21 anos, disse que estava ciente dos riscos da cirurgia de queratopigmentação, mas que o seu médico Cyril Maillon e a equipa do centro oftalmológico parisiense a fizeram sentir-se segura.

Após a cirurgia, disse James, teve uma sensação irritante como quando “uma pestana fica presa e não se consegue tirá-la”. Mas, nos últimos tempos, não sentiu qualquer dor ou teve problemas com os olhos.

Algumas pessoas que fizeram a cirurgia de coloração dos olhos não tiveram experiências tão positivas.

Dina Khalil, uma influenciadora do TikTok, está a sensibilizar as pessoas na Internet para as consequências da colocação de implantes na íris. Há cerca de dez anos, fez implantes para mudar os olhos castanhos-escuros para azuis brilhantes, mas recentemente teve de os remover porque tinha glaucoma em ambos os olhos e estava a perder a visão.

“Estou a acordar com a visão muito desfocada. Preciso de pelo menos uma hora para clarear e ver ou fazer qualquer coisa”, disse ela num vídeo do TikTok. “É um grande problema, e eu não estou bem”.

Khalil disse que fez quatro cirurgias correctivas para evitar que a sua visão piorasse, que ainda precisa de um transplante de córnea e que poderá precisar de uma cirurgia às cataratas em breve.

“Não consigo explicar como isto é deprimente”, disse ela. “Tudo o que eu quero é voltar a ser normal.”

Expectativas realistas

Rotem Barak, de Houston, fez várias cirurgias estéticas nos últimos 30 anos, incluindo um lifting facial e alterações nos braços e no rabo. Chegou mesmo a aparecer num episódio do reality show de cirurgia plástica Botched.

Mas fazer uma despigmentação a laser para mudar a cor dos olhos de avelã para azul pode ser a sua cirurgia mais extravagante, disse Barak.

“A parte da pesquisa é a mais importante”, disse o fisiculturista de 49 anos. “Aprendi a encontrar o melhor médico e a falar com várias pessoas antes de fazer qualquer coisa.”

Originário de Telavive, Barak disse que queria ter olhos azuis porque a sua mãe polaca e o irmão gémeo os têm.

Depois de décadas a alterar cirurgicamente as suas feições, Barak disse que prefere fazer cirurgias estéticas que tenham resultados mais naturais. Segundo ele, a cirurgia de queratopigmentação faz com que os olhos das pessoas se pareçam demasiado com lentes de contacto coloridas.

Viajou para Barcelona para fazer uma cirurgia de despigmentação a laser em Dezembro de 2023. Voltou depois à clínica espanhola alguns meses mais tarde para fazer retoques.

Em resposta ao aviso de Janeiro da AAO, quatro oftalmologistas escreveram uma carta a pedir à organização que se lembrasse do seu aviso sobre a cirurgia de queratopigmentação, citando a falta de referência à literatura revista pelos pares.

Um dos autores da carta, Movshovich, passou 35 anos em oftalmologia geral. Actualmente, um dos seus principais serviços é a cirurgia de queratopigmentação. Outro autor, Brian Boxer Wachler, especialista em córnea de Beverly Hills, passou 26 anos a fazer canais nas córneas para tratar problemas de visão. A queratopigmentação utiliza um procedimento semelhante, mas para fins estéticos.

Boxer Wachler afirma que a cirurgia estética provoca uma grande reacção, ao contrário do procedimento médico.

“Quando as pessoas se sentam na sala de procedimentos, damos-lhes um espelho o nível de felicidade é simplesmente fora de série”, disse ele sobre a cirurgia de queratopigmentação.

Starr disse que não há garantias suficientes para que a organização mude a posição sobre a segurança dos procedimentos.

“Não acho que nenhuma delas seja realmente reversível”, disse Starr. “É por isso que muitos de nós voltam à opção mais segura e reversível lentes de contacto [coloridas].


Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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