Bairro da Penajóia, em Almada, está sem electricidade: “O Natal é um momento de luz e ficámos na escuridão”

Movimento Vida Justa divulgou um comunicado em que pede que “a situação seja rapidamente resolvida” neste bairro autoconstruído de Almada, onde os moradores ficaram sem luz há mais de uma semana.

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Bairro da Penajóia foi construído pelos moradores num terreno propriedade do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana Rui Gaudêncio/Arquivo
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O bairro ilegal da Penajóia, em Almada, ficou sem electricidade nos espaços exteriores e dentro das casas, alertou, em comunicado, o movimento Vida Justa. Uma representante da Associação de Moradores da Penajóia indicou ao PÚBLICO que o local está sem luz desde 18 de Dezembro e que receia o que possa a acontecer se o problema não se resolver. A empresa E-redes diz que não fez cortes de energia no bairro, em que moradores reconhecem que há puxadas de electricidade apesar de dizerem querer resolver a situação.

Esvarena de Sousa está há mais de uma semana sem electricidade na sua casa. E não só ela: todo o bairro da Penajóia tem estado assim desde 18 de Dezembro. “O Natal é um momento de luz e ficámos na escuridão”, diz a moradora de 44 anos, que é representante da Associação de Moradores da Penajóia. Nos últimos dias, tem aquecido água no fogão a gás para conseguir fazer a sua higiene pessoal e lavar roupa. A conservação dos alimentos tem sido outro desafio, bem como o frio que se tem sentido.

“Várias centenas de famílias estão, neste momento, na completa escuridão e sem qualquer informação sobre a situação da electricidade”, refere-se na nota enviada à imprensa pelo Vida Justa. O movimento assinala que estamos no Inverno e que há “milhares de pessoas a viver no bairro”.

Moradores querem dialogar e resolver situação

Este bairro no concelho de Almada foi autoconstruído num terreno que pertence ao Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), entidade pública promotora da política nacional de habitação. Este ano, o instituto chegou a notificar os moradores para limparem os terrenos e abandonarem as casas para proceder a demolições. Contudo, como noticiou o PÚBLICO, não havia qualquer plano de realojamento e tem continuado tudo praticamente igual.

Quanto à electricidade, numa reportagem do PÚBLICO publicada em Novembro, um dos moradores, Emanuel Pina, de 31 anos, reconhecia que no bairro há puxadas de electricidade, o que aumenta o risco de sobrecargas na rede. Também Esvarena de Sousa​ indica o mesmo, mas realça que os moradores querem resolver a situação e passar a pagar a electricidade.

Rita Silva, activista no movimento Vida Justa, indica que o bairro “cresceu enormemente no último ano” porque as pessoas estão sem acesso à habitação. Também conta que, nos últimos dois meses, têm existido “dificuldades” no fornecimento de energia e que têm decorrido conversações entre os moradores, o IHRU e a Câmara Municipal de Almada sobre a situação. A activista considera que o IHRU “tem procurado dialogar”, mas que a autarquia “não tem assumido responsabilidade dentro do bairro”.

Desde 18 de Dezembro, também de acordo com a activista, que o bairro não tem tido luz. “Está todo às escuras! É indigno as pessoas viverem assim no século XXI”, nota. Rita Silva diz que os moradores querem resolver a situação e estão disponíveis para colaborar, mas que “não têm tido feedback” das instituições. No comunicado, indica-se que a Associação de Moradores da Penajóia tem pedido ao IHRU e à Câmara de Almada para que se trate da situação do acesso à electricidade, mas que “tem vindo a piorar e nenhuma instituição actua”.

Questionada pelo PÚBLICO sobre o assunto, a autarquia almadense apenas disse: “A Câmara Municipal de Almada nada tem a referir sobre a matéria, já que o proprietário do terreno é o Estado. Qualquer questão deve ser remetida ao IHRU”. A Câmara de Almada tem vindo a responsabilizar o IHRU por não ter impedido a construção ilegal. O PÚBLICO contactou o IHRU, mas não obteve resposta até ao momento da publicação deste artigo.

Já a empresa E-redes, que faz a manutenção da rede de iluminação pública, negou ser responsável por algum corte de electricidade no bairro. “A E-redes não tem registo de comunicações de avarias em instalações de clientes, nem de anomalias que possam afectar a normal exploração da rede eléctrica no local”, referiu, numa resposta por e-mail enviada ao PÚBLICO. “Nesse sentido, não realizou qualquer acção dirigida ou programada por parte das suas equipas que pudesse ter causado a interrupção deliberada do fornecimento de energia.”

O receio de Rita Silva é que a noite da Passagem de Ano seja igual à do Natal, alertando que a falta de electricidade pode estimular certos comportamentos que podem aumentar o risco de incêndio. Esse é também o medo de Esvarena de Sousa, que conta que têm sido feitas fogueiras e usadas velas. Também receia o que possa acontecer a pessoas mais vulneráveis no bairro, como os idosos doentes e recém-nascidos.

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