PCP não estranha silêncio da ministra sobre operação da PSP no Martim Moniz

Paulo Raimundo acusa Luís Montenegro de ter assumido para si o papel de dar explicações. “Temos de sinalizar os bicos de pés em que o primeiro-ministro se meteu sobre estas matérias”, atirou.

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Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP FILIPE AMORIM / LUSA
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Paulo Raimundo disse, este sábado, que o silêncio da ministra da Administração Interna sobre a operação policial no Martim Moniz não é uma "situação nova", e considerou que o primeiro-ministro "assumiu para si" o papel de dar explicações.

"Não estamos propriamente perante uma situação nova, da ministra da Administração Interna não é propriamente um posicionamento novo", afirmou o secretário-geral do PCP em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, após uma reunião do Comité Central.

Paulo Raimundo considerou que, a partir da declaração do primeiro-ministro na residência oficial, na noite de 27 de Novembro, após os tumultos que se seguiram à morte de Odair Moniz, Luís Montenegro escolheu "ser o primeiro a ter de responder sobre estas questões". "Não sei se foi para libertar a ministra de o fazer, se foi para assumir esse protagonismo, o que é certo é que, fazendo isso, assumiu para si esse papel principal de dar explicações."

O comunista considerou que não basta mudar o responsável pela pasta da Administração Interna para resolver a situação.

"Nada disso, mas de qualquer maneira temos de sinalizar os silêncios da ministra e temos de sinalizar os bicos de pés em que o senhor primeiro-ministro se meteu sobre estas matérias", criticou.

Sobre o Presidente da República, Raimundo disse que "não seria de estranhar" que Marcelo Rebelo de Sousa "também se pronunciasse sobre esta matéria".

"Já agora, um pormenor que não é um pormenor, não é só o senhor Presidente da República, eu próprio, os órgãos de soberania, é bom que não nos esqueçamos que estamos todos obrigados a cumprir e a fazer cumprir a Constituição da República", assinalou.

Paulo Raimundo voltou a defender que o que se passou na quinta-feira, na zona do Martim Moniz, em Lisboa, foi uma "operação de propaganda, de utilização das forças de segurança para propaganda política, para alimentar uma percepção e concepções reaccionárias, perigosíssimas" e considerou que "os últimos responsáveis são naturalmente as forças de segurança".

O secretário-geral do PCP disse também que o "problema não é o PSD e o CDS estarem a ceder à agenda de outros", mas sim que "a agenda que está em curso é a agenda do PSD, do CDS e da correlação de forças institucionais que existe hoje na Assembleia da República", considerando que existe uma "tentativa de imposição de concepções e práticas reaccionárias" para "desviar a atenção dos reais responsáveis dos problemas".

O comunista alertou igualmente para o facto de as pessoas que vivem naquela zona, muitas das quais estrangeiras, precisarem de "melhores condições de vida".

Ainda na quinta-feira, o primeiro-ministro afirmou que a operação da PSP no Martim Moniz foi "muito importante" para criar "visibilidade e proximidade" no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses. Já a ministra da Administração Interna ainda não se pronunciou sobre esta acção, que motivou críticas por parte de vários partidos, que querem chamar Margarida Blasco ao Parlamento.

No dia seguinte, o Presidente da República disse querer ver as imagens da operação policial, para a comentar, mas defendeu como princípio geral que a segurança deve ser exercida com recato.