Montenegro realça importância de policiamento visível. Esquerda quer ouvir Blasco no Parlamento
Montenegro considerou a “operação especial de prevenção criminal” desta quinta-feira e da qual resultaram duas detenções, “muito importante”. Esquerda fala em acção desproporcional e quer ouvir MAI.
O primeiro-ministro considerou nesta quinta-feira que a operação da PSP no Martim Moniz, em Lisboa, foi "muito importante" para criar "visibilidade e proximidade" no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos cidadãos portugueses. "Muitas vezes não é preciso que haja muitos crimes para que as pessoas se sintam inseguras", justificou Luís Montenegro.
"Há uma coisa que me parece óbvia, é muito importante que operações como esta decorram, para que haja visibilidade e proximidade no policiamento e fiscalização de actividades ilícitas", sublinhou o chefe do Governo, em conferência de imprensa, em Bruxelas.
O primeiro-ministro considerou que as operações policiais de prevenção "têm um duplo conteúdo", ou seja, aumentar a "tranquilidade dos cidadãos, por um lado", e combater as "condutas criminosas", por outro.
Montenegro reafirmou ainda a segurança como "prioridade do Governo". "Eu tive a ocasião de [o] dizer ao país, mesmo quando o país mediático me criticou muito. Sinceramente, nunca senti o mesmo do país das pessoas", atirou, depois de defender que a percepção de insegurança não depende do número de crimes.
A PSP realizou, na tarde desta quinta-feira, uma “operação especial de prevenção criminal” na zona do Martim Moniz, Lisboa, sobretudo para detecção de armas e droga, que resultou na detenção de dois homens: um na posse de uma arma branca e alguma droga, e outro por ser suspeito de pelo menos oito crimes de roubo, segundo informou o Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) em comunicado.
BE, PCP e Livre querem ouvir Blasco no Parlamento
O BE, o PCP e o Livre requereram a audição da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, no Parlamento para esclarecer a operação policial no Martim Moniz, considerando-a inadequada, desproporcional e passível de criar "alarme social".
Em declarações aos jornalistas no Parlamento, o líder parlamentar do BE defendeu que o país "assistiu hoje a imagens aviltantes, revoltantes, indecorosas", referindo-se às imagens de uma operação policial no Martim Moniz, em que se vêem "dezenas de pessoas encostadas à parede por simplesmente serem imigrantes".
"Isto é inaceitável, não se coaduna com os princípios do Estado de direito democrático. (...) Tratou-se meramente de um número de propaganda de extrema-direita, promovida pelo Governo, e o mais grave é que o Governo não esconde que instrui as forças de segurança para perseguir imigrantes", disse.
Fabian Figueiredo acusou o Governo de ter "embarcado numa campanha de perseguição aos imigrantes" e de estar a "instrumentalizar as forças de segurança para fazer campanha eleitoral, para disputar apoio eleitoral à extrema-direita".
"Não assistiremos impávidos e serenos a esta escalada que o Governo está a promover e, por assim ser, daremos entrada, daqui a poucos minutos, de um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna e o director-nacional da PSP", anunciou.
O líder parlamentar do BE disse que o partido quer saber "se estas operações policiais vão continuar ou finalmente parar" e se a actuação da polícia se vai "conjugar com os princípios da segurança e da tranquilidade pública" ou se o Governo a vai continuar "a usar para andar à caça da percepção".
Por sua vez, o deputado do PCP António Filipe também anunciou um requerimento para ouvir a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, "tendo em conta a forma que revestiu a operação policial" no Martim Moniz.
"Foi anunciado que o objectivo era contribuir para aumentar a segurança dos cidadãos e dar cumprimento a seis mandados judiciais. As imagens que chegaram dessa operação policial suscitam dúvidas quanto à sua adequação e proporcionalidade, sobretudo quando se diz que o objectivo é aumentar a segurança dos cidadãos", disse.
Para o deputado do PCP, "fica-se com a sensação de que elas poderão também contribuir para criar algum alarme social que pode não se justificar".
"Requeremos a audição da ministra da Administração Interna para esclarecer a Assembleia da República sobre os reais objectivos daquela operação, a forma como ela decorreu e se considera que decorreu de forma adequada e proporcional, tendo em conta os objectivos que visava", disse.
Já o Livre, pela voz de Rui Tavares, defendeu que "é muito importante que as autoridades policiais e a sua tutela política" esclareçam se estas operações têm "uma real razão de existir do ponto de vista da segurança ou se elas existem apenas para responder mediaticamente à extrema-direita".
"Se for assim, temos a autoridade do Estado muito mal entregue", criticou. Para o deputado do Livre, "hoje é um dia em que a agenda do Governo e do PSD foi completamente determinada pela extrema-direita", o que considerou que aconteceu "dentro e fora do Parlamento".
"Dentro do Parlamento, com o acompanhamento do debate sobre percepções em termos de saúde; fora do Parlamento, com uma operação policial que é 'suspeite primeiro, detenha primeiro, encoste à parede primeiro' e depois veja se a pessoa efectivamente é suspeita de alguma coisa ou se cometeu algum crime", criticou.
De acordo com Rui Tavares, estas coisas "acontecem por razões que são estranhas aos direitos das pessoas, à segurança, à Administração Interna, acontece por razões noticiosas, mediáticas, de marcação de agenda política".
Sobre o debate da saúde, o deputado do Livre apontou que o PSD acabou "a votar ao lado do Chega nas suas propostas principais". "E, portanto, André Ventura, passado estes anos todos, acabou por ganhar a liderança do PSD", condenou.