A actriz norte-americana Blake Lively apresentou uma queixa junto do Departamento de Direitos Civis da Califórnia contra o actor Justin Baldoni, com quem protagonizou o filme Isto Acaba Aqui (It Ends With Us, no título original), e que acusa de assédio sexual e de uma campanha difamatória para a "destruir". A queixa foi noticiada em primeira mão pelo jornal New York Times, que a revela na íntegra.
Uma queixa ao departamento californiano de Direitos Civis, explica o diário nova-iorquino, costuma preceder a apresentação de um processo cível na justiça. No documento, Lively alega ter sido financeiramente lesada pela campanha difamatória que denuncia, antevendo a possibilidade de um pedido de indemnização multimilionário.
O jornal faz a cronologia da alegada campanha, citando trocas de mensagens entre uma representante de Baldoni e Melissa Nathan, uma especialista em gestão de crise que representou Johnny Depp durante a sua batalha legal com Amber Heard. "Ele quer sentir que pode enterrá-la", escreve a publicista de Baldoni. "Tu sabes que conseguimos enterrar qualquer pessoa", responde Nathan.
A campanha terá passado pela supressão de notícias desfavoráveis para Baldoni, através de jornalistas aliados da agência de gestão de crise, e pela promoção de uma narrativa de diabolização de Lively, incluindo através de posts pagos nas redes sociais. Ao longo dos últimos meses, recorda o New York Times, foram publicadas várias histórias a caracterizar a actriz como insensível, má colega ou agressiva.
Os visados da queixa, incluindo Baldoni, negam todas as acusações. Numa declaração ao Hollywood Reporter, Bryan Freedman, advogado de Baldoni, diz ser "vergonhoso que Lively e os seus representantes tenham proferido acusações tão graves e categoricamente falsas".
O Hollywood Reporter noticia também, este sábado, que a agência de talentos TME decidiu entretanto suspender a sua colaboração com Baldoni na sequência das acusações de Lively.
Conflito na rodagem de Isto Acaba Aqui
A alegada campanha de difamação agora objecto de queixa na Califórnia ter-se-á seguido a outras queixas internas, por parte de Lively, de assédio sexual e de outras condutas impróprias durante a rodagem de Isto Acaba Aqui, adaptação ao cinema de um livro de Colleen Hoover, e que agora são tornadas públicas. Os visados eram Baldoni, que para além de co-protagonista, foi também realizador da película, e o produtor executivo Jamey Heath.
Segundo é agora detalhado no processo, Lively recusou a filmagem de cenas de sexo que considerou serem gratuitas e exigiu garantias de segurança aos estúdios Wayfarer durante a rodagem do filme. Numa reunião em Janeiro, a actriz acusou Baldoni de ter improvisado cenas de beijo, de ter conversas impróprias e não solicitadas, de não ter respeitado a privacidade de Lively enquanto esta trocava de roupa no camarm, e de lhe ter exibido imagens da mulher do actor nua.
A inclusão de um coordenador de intimidade durante a rodagem do filme, na sequência da reunião, terá melhorado a situação, reconhece a actriz.
No entanto, a fase final da produção seria novamente marcada por conflito. Lively reuniu um conjunto de produtores que apresentaram uma edição alternativa do filme, enquanto Baldoni e os estúdios Wayfarer trabalharam noutra versão. A versão de Lively acabou por ser a escolhida pela Sony, distribuidora do filme, e pelos estúdios Wayfarer, com a actriz a ser creditada como co-produtora.
Durante a fase de divulgação e promoção do filme, Lively e outros actores recusaram participar em entrevistas e acções de marketing com Baldoni, com a imprensa a notar os sinais de conflito no seio do elenco.
Campanha nas redes sociais
Apesar de o filme ter sido um sucesso de bilheteiras, conta o New York Times, Baldoni terá ficado preocupado com as possíveis repercussões das acusações de Lively, que não se tinham tornado inteiramente públicas até então. O jornal transcreve trocas de mensagens em que o actor e os seus representantes discutem planos de comunicação para denegrir a actriz.
Sendo difícil identificar que notícias ou fenómenos virais terão efectivamente integrado a alegada campanha de difamação, ou se terão tido origem orgânica, há vários momentos ao longo dos últimos meses em que Blake Lively recebe atenção negativa na imprensa e nas redes sociais. Um deles foi a publicação viral, em Agosto, de um vídeo de uma entrevista concedida por Lively em 2016 a uma jornalista norueguesa em que a actriz adoptou uma postura hostil em relação à repórter.
O vídeo tinha como título "A entrevista de Blake Lively que me fez querer desistir do meu trabalho". "É altura de as pessoas que se portam mal em Hollywood, ou em qualquer outro lugar, serem chamadas à atenção", disse a jornalista que conduziu a dita entrevista em declarações ao jornal britânico Daily Mail.
Outro aspecto associado à campanha difamatória terá sido o foco da imprensa e de posts nas redes sociais em acusações de insensibilidade, dirigidas a Blake Lively, em relação à violência doméstica, tema central do filme. No entanto, Lively e os outros actores do filme tinham sido instruídos pela Sony a não falar de violência doméstica e a abordar antes outros aspectos da película. Essa estratégia terá sido ignorada por Baldoni, que em vários momentos abordou o fenómeno da violência doméstica, acentuando assim uma clivagem face a Blake Lively na cobertura mediática do projecto.
Durante o Verão, e apesar do sucesso de Isto Acaba Aqui, uma fatia desproporcional do debate online sobre o filme e o elenco era hostil em relação a Blake Lively e elogiosa face a Baldoni. Um relatório de uma empresa de marketing, a Terakeet, que consta do processo agora movido, identifica que Lively terá sido alvo de um "ataque online direccionado e multicanal".