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De volta ao lar
O tempo não perdoa, corre sem freio, mas nada pode com os amores que ficam, inexiste diante de uma conexão verdadeira. Senti como se tivesse mudado ontem para Portugal.
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A escrita de hoje carrega um pouco de saudosismo e nostalgia. Acho que são dois sentimentos meio primos, que andam lado a lado.
Neste momento, me encontro na cidade onde passei a maior parte da minha vida até agora, o Rio de Janeiro. Foram 21 anos vividos com muitas alegrias, aventuras, ansiedades, dificuldades, mas, acima de tudo, com muita beleza, diversão e uma energia que poucos lugares oferecem. Estou matando a saudade de uma parte única do Brasil. A gente não encontra lugar parecido com o Rio por aí, para o bem ou para o mal.
Voltei a ver o “caveirão” do Bope pelas ruas (brasileiros me entenderão), a ver a desordem urbana com a qual eu não me incomodava, porque estava acostumada. Voltei a ouvir as ruas barulhentas, as pessoas que falam alto, que sorriem, que abraçam, que dão gargalhadas, apesar de tantos pesares.
Voltei a perder horas no trânsito e a ver cenas que só vejo aqui, como um antigo vizinho que chegou ao prédio com a cadeira de praia nas costas, como se fosse uma mochila. E o porteiro logo indagou: "A praia tá boa?"
Eu tava com saudade do Rio!
Comi minha picanha com farofa favorita, meu “japa” preferido e encontrei os garçons de sempre, do chope da saideira, do “traz mais um”, os que sempre me trataram com carinho e nunca me deixaram sem mesa. Que bom que eles continuam aqui, que puderam me ver, e ver meu filho. "Nossa, como ele tá grande!"
Encontrei tanta gente, revi tantos amigos! E, por muitas vezes, tive a sensação de que nunca saí daqui, ou de que tinha partido ontem. O tempo não perdoa, corre sem freio, mas nada pode com os amores que ficam, inexiste diante de uma conexão verdadeira. Senti como se tivesse mudado ontem para Portugal. Três anos e meio desapareceram, e essa sensação aconchega a alma, igual a visitar a casa da mãe e encontrar o quarto de criança ou adolescente ainda intacto. É o tempo mais uma vez vencido pela energia do amor, da presença.
Mas se passaram três anos e meio e, por aqui, pouco mudou. Os problemas permanecem, a pobreza permanece, a violência ainda assombra, mas o mar continua lindo, o céu é uma surpresa a cada dia, com um colorido de encher os olhos, e o povo é o riso certo de sempre.
Eu tava com saudade do Rio.
E o calor? Vixi Maria, esse parece que aumentou, ou eu é que desacostumei.
Daqui a pouco volto, para a minha atual casa, Lisboa, mas tenho certeza de que vou regressar com alma e coração preenchidos, cheia de energia e grata por ter o Rio na minha vida. Essa não é mais a minha casa, mas sempre será um lugar para onde poderei querer voltar.
Obrigada, Rio! Obrigada, meu Brasil!