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Para todos os que põem luzes de Natal em casa
Já não passo pela casa há anos, mas sempre que vejo luzes de Natal a serpentear varandas ou homens barbudos a treparem a janela de salas de escolas lembro-me dela.
Quando era pequena e saía de casa dos meus avós maternos depois do jantar, nas noites em que a minha mãe trabalhava no hospital e o meu pai nos agasalhava aos três para voltarmos a casa, havia um momento da viagem de carro em que todos despertávamos. As caras encostadas aos vidros embaciados iluminavam-se ao passar por aquela casa em Oliveira do Douro, em Gaia, onde todos os anos o espectáculo de luzes de Natal — eram centenas de LEDS, nas árvores e esculturas do jardim e a acompanhar a fachada — era diferente. Não me recordo de ver as montagens. Só sabia que uma noite a rua estava escura e na outra ficava de dia até ao final do ano.
Quando já éramos adolescentes e não cantávamos ou dormíamos até à porta de casa, o silêncio mal-humorado de um dia inteiro de escola e trabalho dissipava-se nos minutos de conversa de circunstância sobre aquela cena. Já não passo pela casa há anos, mas sempre que vejo luzes de Natal a serpentear varandas ou homens barbudos a treparem a janela de salas de escolas lembro-me dela.
Gosto de pensar como planeavam impressionar no ano seguinte os carros que se desviavam do caminho só para ali passarem e nas conversas entre vizinhos nas vésperas de Dezembro (ou, cada vez mais, de Novembro). Não sei quando o começaram a fazer, nem porquê, mas gosto que o façam ano após ano sem qualquer lógica prática, mesmo nos anos onde a vida poderá ter corrido pior. Fazem-no porque gostam, espero, e porque faz os outros — ou alguns outros — felizes. Espero também que entretanto tenham mudado para luzes solares e que as reutilizem todos os anos, em formações diferentes, mas não é nisso que penso quando vejo as luzes que chamaram a atenção do fotojornalista do PÚBLICO Paulo Pimenta, nas viagens de trabalho que faz sozinho. Penso como, mesmo quando tudo está péssimo, há quem tente manter um espírito natalício. Seja isso o que for. Renata Monteiro