Scholz perde voto de confiança, passo essencial para eleições antecipadas na Alemanha

Resultado era esperado depois de a sua coligação ter perdido a maioria e abre caminho a que possam ser realizadas eleições a 23 de Fevereiro.

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O Parlamento alemão votou para retirar a confiança ao chanceler Lisi Niesner / REUTERS
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O chanceler alemão, Olaf Scholz, perdeu esta segunda-feira a votação de uma moção de confiança, um passo necessário para realizar eleições antecipadas cuja data já tinha sido decidida por acordo entre os dois partidos do centro, o Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz e a União Democrata-Cristã (CDU) de Friedrich Merz.

Como o Parlamento não pode decidir dissolver-se (por medo de instabilidade como na República de Weimar), o chanceler fez o pedido para deliberadamente perder o voto e abrir caminho ao processo de marcação de eleições, que caberá depois ao Presidente.

A votação terminou com 207 votos a favor de manter a confiança em Scholz, 349 contra, e houve 116 abstenções.

A última vez que um chanceler fez esta manobra de provocar uma votação que quer perder – foi quando, em 2005, Gerhard Schröder pediu aos deputados do seu partido para se absterem na votação para ir a eleições antecipadas, já que, ao contrário de Scholz, continuava a ter uma coligação maioritária no Parlamento, com os Verdes.

Schröder começou a campanha em grande desvantagem, mas conseguiu levar o seu partido até quase a um empate com a CDU de Angela Merkel. Merkel, no entanto, venceu, e formou uma "grande coligação", ou seja, um bloco central, com o SPD. A grande coligação seria a forma de três dos quatro governos de Merkel.

No caso de Scholz, o seu partido votou mantendo a confiança no chanceler, mas, devido à possibilidade de a Alternativa para a Alemanha (AfD), o partido nacionalista e xenófobo que cada vez mais pode ser descrito como de extrema-direita, acabar por votar a favor do chanceler apenas para fazer descarrilar o processo e o calendário até às eleições, os Verdes abstiveram-se.

A coligação terminou quando o chanceler afastou o seu ministro das Finanças, Christian Lindner, do Partido Liberal-Democrata (FDP), após uma disputa sobre o orçamento, com Lindner a recusar mais gastos, invocando a necessidade de cumprir o limite da dívida.

“Cada vez menos raro”

Na rede social Bluesky, o professor de Ciência Política Kai Arzheimer comentava que hoje foi apenas a sexta vez que isto aconteceu no país. “É interessante o facto de todas estas votações terem ocorrido durante a minha vida, três delas enquanto observador da vida política alemã”, escreveu ainda. “É um acontecimento raro que se está a tornar um pouco menos raro”, sublinhou.

No debate, Scholz defendeu que o país precisa de investimento. “Ter vistas curtas pode significar poupar dinheiro a curto prazo, mas não podemos dar-nos ao luxo de hipotecar o nosso futuro”, defendeu.

Já o líder da oposição, Friedrich Merz, lançou um feroz ataque a Scholz, dizendo que a sua coligação “teve uma oportunidade” e “falhou”, acusando ainda o chanceler de ter uma prestação “vergonhosa” no palco internacional, o que foi logo contrariado por protestos da bancada social-democrata.

O vice-chanceler e candidato a chanceler dos Verdes, Robert Habeck, sublinhou que “é muito pouco provável que a situação seja mais fácil para o próximo governo”, já que será possível que o vencedor tenha de governar com partidos diferentes de si ou entre si (o que acontece pela maior fragmentação e também maior expressão eleitoral da AfD, com quem nenhum partido admite governar).

De acordo com as últimas sondagens, a União Democrata-Cristã (e o seu partido gémeo na Baviera, a União Social-Cristã) está destacada à frente com 31% na mais recente sondagem, do instituto INSA, seguida da AfD com 20% (mais do que os 17-19% de inquéritos de outros institutos), do SPD com 17%, dos Verdes com 11%, da Aliança Sahra Wagenknecht (esquerda anti-imigração) com 8%, e dos liberais com 5%, mesmo no limite de poder entrar no Parlamento.

O partido Die Linke (A Esquerda) ficaria de fora com 3% (a não ser que conseguisse, como nas eleições passadas, três mandatos directos, o que lhe permitiu eleger um grupo parlamentar apesar de ter tido apenas 4,9% dos votos (no sistema alemão cada eleitor tem dois votos, contando um para a percentagem geral do partido, e o outro é um voto numa pessoa num determinado círculo – se esta pessoa tiver a maioria, é eleita além de quem é eleito pela lista; por isso é que o número de lugares no Bundestag é variável e há cadeiras retiradas ou acrescentadas a cada legislatura).

Mas, como escreveu Berthold Kohler, um dos publishers do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, se é certo que as coisas não parecem estar bem para Scholz, “até à eleição muita coisa pode acontecer”: “Merz pode tropeçar. E [Markus] Söder [o líder da CSU], Trump e Putin são bons para surpresas”, escreveu, referindo-se ao Presidente eleito dos EUA, que tomará posse antes das eleições alemãs, e ao líder da Federação Russa.

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