Lindner tenta distanciar-se de escândalo de documento do “Dia D” dos liberais alemães
Documento desenhava estratégia, em termos bélicos, de gestão de crise após queda do Governo de coligação, já em Setembro.
O líder do Partido Liberal-Democrata (FDP), Christian Lindner, tentou neste domingo distanciar-se de um documento do seu partido em que este desenhava uma estratégia para o que chamou “Dia D”, ou seja, o dia em que sairia da coligação do Governo e o faria cair, com uma série de narrativas prontas a usar — o que causou especial polémica por deixar claro que o partido ponderava sair do Governo e deitar abaixo a coligação e pelo uso de termos bélicos.
A divulgação do documento arrisca piorar as hipóteses de o FDP conseguir eleger um grupo parlamentar para o Bundestag (Parlamento) nas eleições de 23 de Fevereiro — as sondagens já lhe vinham a dar valores abaixo ou mesmo no limite dos 5% de votos necessários para entrar no Parlamento. Se não atingirem um mínimo de 5% de votos, esta será apenas a segunda vez na sua história que o FPD fica fora do Parlamento.
Uma ausência do FDP do Parlamento dificultaria ainda potencialmente mais as hipóteses de coligação da União Democrata-Cristã (CDU) de Friedrich Merz, para quem os liberais são o parceiro de coligação mais próximo ideologicamente. A única vez que os liberais falharam a entrada no Bundestag foi na sequência de um governo de coligação no segundo mandato da chanceler Angela Merkel que foi marcado por desentendimentos e polémicas públicas.
O documento em causa, uma apresentação em oito páginas de powerpoint com o título “Cenário e medidas para o Dia D”, feito já em Setembro, levou à demissão do secretário-geral do partido, Bijan Djir-Sarai, que era também responsável pela estratégia e campanha eleitoral dos liberais, e de Carsten Reymann, muito próximo de Lindner.
Lindner esteve no programa da jornalista e apresentadora Caren Miosga, na emissora pública ARD, em que foi questionado sobre a intenção de fazer cair a coligação e o que o próprio Lindner sabia sobre o documento, em que eram previstas várias fases até a uma descrita como “início da batalha campal”.
O tom bélico e a referência do Dia D no título, o dia do desembarque das forças aliadas na Normandia, o dia que marcou o início da derrota da Alemanha nazi, um dia em que morreram mais de 4 mil soldados aliados e entre 4 mil e 9 mil soldados nazis, causaram especial dano.
O presidente do partido tentou escapar ao dano causado pelo “documento interno” e tinha-se multiplicado em declarações lamentando-o profundamente. Questionado por Miosga, numa troca tensa em que se queixou das interrupções da jornalista, Lindner acabou por dizer que tinha tido conhecimento do documento “no âmbito de investigações jornalísticas”.
Lindner admitiu o seu descontentamento com a coligação e responsabilizou-se por considerar cenários, incluindo uma saída do FDP da coligação, argumentando que o fez numa posição de fraqueza (o partido vinha a descer nas sondagens e a perder em eleições nos estados federados) e não de força.
O político argumentou ainda que o cenário do documento não se concretizou: o chanceler Olaf Scholz acabou simplesmente por demiti-lo do seu cargo de ministro das Finanças, levando à queda do Governo e a eleições antecipadas, acusando-o de pensar no partido e não no bem comum. Sondagens após a demissão mostravam que a maioria das pessoas inquiridas culpava em primeiro lugar os liberais pela queda do Governo.
Notícia corrigida a 3/12, corrigido no título o nome de Christian Lindner