Palcos da semana: do Vento Forte ao amor a Natália
Vêm aí uma ópera para Natália de Andrade, uma Estufa de novo circo, um Contrapeso de teatro e jazz, um Vento Forte pelos Artistas Unidos e Música em São Roque.
A Contrapeso, sem tradição
Ainda a sentir o eco do Som Riscado, Loulé prepara-se para mais um festival, este equilibrado noutras artes. É entre teatro e jazz que se move o Contrapeso, que nesta quarta edição entra em modo No Coder para abarcar “espectáculos e artistas que não encaixam em categorias estanques”, explica a organizadora Mákina de Cena. E “onde a tradição não terá lugar”, assegura.
Começa com Une Histoire Vraie, da Gato SA. Encenada por Lionel Ménard, é uma peça que, sem recorrer a uma única palavra, diz muito sobre uma família de refugiados de guerra, “questionando a nossa atitude perante o infortúnio alheio”. Para as notas de encerramento, chamará o contrabaixista israelita Adam Bem Ezra e a sua sede de cortejar estilos para além do jazz.
Até lá, as manobras jazzísticas passam também pelo trio de Yessai Karapetian e pelo quinteto liderado por Zé Cruz. Já as propostas teatrais/performativas completam-se com Femme Hybride de Ulima Ortiz, As Criadas de Genet pelo Chapitô, Matilde J. Ciria na “experiência interactiva perturbadora” que é iMythos beta2. Deuses da Loucura e o solo Jacarandá de Magnum Soares (e marionetas). Duas masterclasses, uma oficina para crianças e uma festa complementam a oferta.
São Roque entre água e sombras
Música Aquática de Telemann e Händel na Igreja de São Roque, pela Orquestra Metropolitana de Lisboa. É neste tom que a capital mergulha em mais uma temporada de Música em São Roque, o ciclo que oferece a oportunidade de assistir a actuações de “algumas das orquestras e coros mais importantes do panorama de música clássica portuguesa”. E outras artes também.
Musicalmente falando, esta 36.ª edição conta ainda com O Chiaroscuro de Vivaldi e Bach pela Orquestra Sem Fronteiras, Madrigais Camonianos pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos, Do Barroco ao Classicismo pela Orquestra Sinfónica Juvenil e canções sefarditas pelo Coro Ecce acompanhado por Filipe Raposo ao piano.
Pelo caminho, há teatro de sombras pelas mãos de Beniko Tanaka e uma leitura encenada do Filodemo de Camões sob a direcção de Pedro Penim, em nome D. Maria II, sem esquecer a ronda de Ouvidos para a Música orientada por Martim Sousa Tavares.
O nosso amor é… Natália
Era uma vez uma soprano que, de tão convencida da sua voz maviosa, conseguia abafar as gargalhadas que granjeava com o tamanho da sua ilusão de ser diva da ópera. Os EUA tiveram Florence Foster Jenkins. Portugal teve Natália de Andrade (1910-1999). Ambas pareciam viver numa realidade só delas. Foram carimbadas de loucas, alvos fáceis de paródias. A nossa tornou-se ainda mais famosa às mãos de Herman José. Agora, tem honras de homenagem numa… ópera.
Composta por Luís Soldado, com libreto de Rui Zink, O Nosso Amor É... - Uma Ópera para Natália de Andrade “pretende devolver-nos uma outra Natália de Andrade, a que brilhou enquanto força individual numa sociedade provavelmente ela mesma mais fechada do que julgava, e, de tanto ter medo do ridículo, ridícula”, clarifica a folha de sala.
A encenação é de Linda Valadas. A interpretação fica a cargo de Carla Simões, Nuno de Araújo Pereira e Ana Padrão. Rui Pinheiro assume a direcção musical.
Unidos num Vento Forte
Os Artistas Unidos ainda há pouco estrearam uma distopia – 1984, de George Orwell, adaptada por Robert Icke e Duncan Macmillan – e já estão prontos a atirar-se a uma peça que “conta a história não só da tentativa de regresso à vida, mas também ao mundo do teatro, cujos parâmetros se alteraram e cujas antigas certezas se perderam”, descrevem.
Isto no momento em que continuam com casa incerta, desde o despejo do Teatro da Politécnica. É ao Variedades que levam o Vento Forte do nobelizado Jon Fosse, a partir da tradução de Pedro Porto Fernandes. A encenação cabe a António Simão. Américo Silva, Andreia Bento e Nuno Gonçalo Rodrigues compõem o elenco.
Café, sol e flores na Estufa
Mais um ano, mais uma trilogia de estreias na Estufa, a mostra que a Erva Daninha monta em parceria com o Teatro Municipal do Porto, na ânsia de “dar espaço a novas linguagens, estéticas e dramaturgias do circo contemporâneo”. Este ano, “partimos da solidão até à sua relação com o par e com o colectivo”, detalha Vasco Gomes, curador desta edição.
Na Sala-Estúdio, Lucía Merlino toma Cafelina como quem faz “um poema escrito com imagens de café”. Quem Anda ao Sol encontra Felipe Contreras e Miguel Brás no Café-Teatro, em malabarismos dialécticos que ora espelham contradição ora harmonia. O terceiro movimento é da “quadrilha de assaltantes do mastro chinês” do Cirque Lambda, que vem abordar em Chapitre 2: Ainsi Rugissent Les Fleurs, no palco do Auditório, “o absurdo dos rótulos sociais actuais”.