Ucrânia denuncia “ataque maciço” russo contra rede eléctrica no dia de Natal. “Desumano”, acusa Zelensky
Meio milhão de pessoas ficaram sem aquecimento na região de Kharkiv na sequência dos ataques. Ucrânia está a celebrar o Natal a 25 de Dezembro pela segunda vez.
Com sons de alarmes de ataques aéreos ou explosões, abrigados no metro ou sem energia: a segunda vez que a Ucrânia celebra oficialmente o Natal a 25 de Dezembro foi marcada por enormes ataques russos contra a sua infra-estrutura energética, deixando milhares de pessoas sem aquecimento quando as temperaturas são negativas ou ainda sem fornecimento de água. Foram ainda atingidos edifícios civis e morreram pelo menos três pessoas, com ataques que ainda decorriam ao final da manhã. Um dos mísseis passou pelo espaço aéreo da Moldava.
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, condenou a acção russa. “Putin escolheu conscientemente o Natal para o seu ataque. Há algo mais desumano?”, escreveu no Telegram.
Na região de Kharkiv, meio milhão de pessoas sem aquecimento e sem água na sequência dos ataques – numa altura em que as temperaturas estão negativas.
Na cidade de Dnipro, por outro lado, os ataques obrigaram à evacuação de uma ala de um dos hospitais da cidade, com mais de cem pacientes a terem de ser retirados e distribuídos por outras unidades de saúde, disse o presidente da câmara de Dnipro, Boris Filatov, no Telegram, citado pelo diário britânico The Guardian.
A Moldava afirmou entretanto que um míssil russo passou pelo espaço aéreo do país. “Enquanto os nossos países celebram o Natal, o Kremlin escolhe a destruição – atacando a infra-estrutura de energia da Ucrânia e violando o espaço aéreo da Moldova com um míssil, acções que violam o direito internacional de modo claro”, escreveu a Presidente do país, Maia Sandu, na rede social X (antigo Twitter). A Ucrânia disse ainda que outro projéctil teria passado pelo espaço aéreo da Roménia, mas o país disse não ter detectado.
As forças de defesa da Ucrânia conseguiram interceptar “mais de 50 mísseis” e vários drones, segundo Zelensky, mas ainda assim, alguns ataques provocaram “cortes de electricidade em várias regiões”.
A Força Aérea anunciou ter detectado 184 “ataques aéreos inimigos” até ao meio dia em Kiev (10h em Portugal continental), com infra-estrutura energética atingida nas zonas de Kiev, Kharkiv, Dnipropetrovsk, Poltava, Zhytomyr, Ivano-Frankivsk, e Zaporizhia.
Este “terror de Natal é a resposta de Putin àqueles que falaram de um ilusório ‘cessar-fogo de Natal’” entre Kiev e Moscovo, afirmou, por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrii Sybiha, citado pela agência Lusa.
Zelensky acusou a Rússia de “continuar a lutar para conseguir um blackout na Ucrânia”.
O jornalista da BBC Will Vernon, que está em Kiev, descreveu o som de alertas repetidos nos telemóveis sobre ataques, e relatou como muitas pessoas passaram o Natal abrigadas em estações de metro da capital.
Mas muitas pessoas acabaram por sair e participar, com trajes tradicionais, numa procissão de Natal na cidade.
O ministro da Energia, German Galushchenko, tinha pedido às pessoas para não saírem dos abrigos “enquanto se mantiver o perigo”, e equipas tentavam analisar e recuperar as instalações e a rede. Ainda na semana passada, o Presidente Zelensky agradeceu às equipas que trabalham sob pressão para reparar os danos após os ataques para “trazer luz e calor às nossas casas” face a ataques repetidos da Rússia.
O principal fornecedor privado de energia do da Ucrânia, DTEK, disse que este foi o 13º grande ataque russo contra instalações de energia levado a cabo este ano.
A Ucrânia está ainda a considerar soluções para proteger a produção de energia destes ataques, como uma central hidroeléctrica subterrânea, diz a BBC. Mas no imediato pede mais sistemas de defesa anti-míssil aos países ocidentais.
Rússia: objectivo “foi cumprido”
De Moscovo, o Ministério da Defesa da Federação Russa congratulou-se com o ataque “contra instalações importantes da infra-estrutura energética ucraniana que apoiam o trabalho do complexo militar-industrial”, cita a agência Reuters. “O objectivo do ataque foi cumprido, todas as instalações foram atingidas.”
O grupo DTEK declarou que as suas centrais térmicas tinham sido alvo deste novo ataque, tendo registado “danos graves” no seu equipamento, cita a agência Lusa.
“Privar de luz e calor milhões de pessoas pacíficas que celebram o Natal é um acto perverso e cruel que deve ser combatido”, disse o director executivo da DTEK, Maxim Timchenko, na rede social X.
Os ataques ocorrem no dia em que a Ucrânia celebra o Natal a 25 de Dezembro pela segunda vez na história moderna, e já não a 7 de Janeiro, como no calendário juliano seguido pela Igreja Ortodoxa Russa.
A mudança foi decretada no Verão de 2023, como um sinal de distanciamento do país em relação à Rússia.
Enquanto isso, na Rússia, o governador da região de Kursk disse que morreram quatro pessoas na cidade de Lgov na sequência de ataques ucranianos. A região de Kursk foi o palco de uma surpreendente acção ucraniana que avançou em território russo no Verão, conseguindo controlar território significativo – em Novembro as forças ucranianas tinham, no entanto, perdido 40% do território inicialmente ocupado na região.
Ainda na região da Ossétia do Norte, uma mulher morreu na sequência da queda de destroços de um drone ucraniano que provocou uma explosão e um incêndio num centro comercial, segundo o governador de Vladikavkaz.